Austin Warren |
Neste domínio de investigação, em que se abre um horizonte fecundíssimo para o desenvolvimento interdisciplinar dos estudos linguísticos e literários, a instância produtora do texto reveste-se de uma importância primordial. O autor, como emissor de textos literários, caracteriza-se, tal como o participante (emissor e receptor) em qualquer acto de comunicação linguística, por uma 'situação pressupositiva complexa' (komplexe Voraussetzungssituation) em que se devem distinguir factores como: códigos semióticos disponíveis e regras orientadoras de um comportamento verbal adequado às várias situações comunicativas; pressupostos socioeconómicos, socioculturais e cognitivo-intelectuais (conhecimento do mundo, educação, experiências adquiridas, conhecimento das regras sociais, opiniões sobre os seus parceiros na comunicação); situação (p. 251) biográfico-psiquica, etc. Como escreve Siegfried J. Schmidt, 'It is in the framework of this complex set of factors that a speaker constitutes his special intentions as to the propositional content and the communicational effect of his text production and text utterance ('Mitteilungs-und Wirkungsabsicht') that is to say his 'communication strategy'. Em relação ao locutor da comunicação linguística, a 'situação pressupositiva complexa' do emissor/autor da comunicação literárias é mais rica e complicada, pois a sua competência comunicativa compreende, como expusemos no capítulo anterior, os elementos constitutivos da competência comunicativa daquele falante acrescidos de outros elementos semióticos específicos. O conjunto de regras pragmáticas que designámos por ficcionalidade em 3.4., e que representa um dos mecanismos integrantes do sistema semiótico literário, impõe, a nível da produção textual, uma semiotização peculiar aos diversos factores da 'situação pressupositiva complexa', mas não os derroga, nem os aniquila. A ficcionalidade, como decorre do que escrevemos em 3.6.2., nunca se funda nma relação de identidade ou numa relação de exclusão mútua com o mundo empírico, mas sim numa relação de implicação, e a autonomia semântico-pragmática dos mundos possíveis contrafactuais ou não-factuais da ficção literária não anula a referencialidade mediata de tais mundos ao mundo fáctico e histórico: a ficcionalidade, como salienta Rainer Warning, funda-se numa pressuposição situacional e, nessa (p. 252) medida, é essencialmente contratual e, por conseguinte, histórica."
(CONTINUA)
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