segunda-feira, 10 de julho de 2017

TRABALHO ACADÊMICO ANALISA CONTO DE BRAFF

O conto “O gorro do andarilho”, que integra o livro A coleira no pescoço, foi analisado em artigo acadêmico publicado por  Flavia Karla Ribeiro Santos  e Vera Lucia Rodella Abriata na revista RECORTE, do Mestrado em Letras: Linguagem, Cultura e Discurso / UNINCOR V. 13 - N.º 1.

ACONTECIMENTO EM “O GORRO DO ANDARILHO” DE MENALTON BRAFF
(Flavia Karla Ribeiro Santos1 Vera Lucia Rodella Abriata2) 

RESUMO: Analisamos neste trabalho o conto “O gorro do andarilho”, que integra o livro A coleira no pescoço, coletânea de contos de Menalton Braff, a partir do referencial teórico da semiótica francesa. Nosso objetivo é demonstrar o modo como um acontecimento irrompe no texto e altera a rotina do ator protagonista, um andarilho que, sentindo-se espoliado de condições dignas de vida, tem essa sensação intensificada com o roubo do gorro que o protegia do frio, único objeto-valor de que dispunha. Para isso, aplicamos ao texto pressupostos teóricos da semiótica da ação e da semiótica tensiva. Utilizamos na análise o conceito de acontecimento, primeiramente formulado por A. J. Greimas em Da imperfeição, e posteriormente sistematizado por Claude Zilberberg em suas últimas obras.

PALAVRAS-CHAVE: Semiótica Francesa; Rotina; Acontecimento.

RÉSUMÉ: Nous examinons dans cet article le conte littéraire “O gorro do andarilho”, qui fait partie intégrante du livre A coleira no pescoço, d'une série de contes de Menalton Braff, à partir du cadre théorique de la sémiotique française. Notre objectif est de démontrer comment un événement éclate dans le texte et modifie le exercise de l'acteur protagoniste, un errant qui en se sentant spolié des conditions de vie décentes a ce sensation intensifiée avec le vol de son bonnet qui protégeait-t-il du froid et il était le seul objet de valeur qu’il possédait. Pour cela, appliquons-nous au texte postulats théoriques de la sémiotique de l’action et de la sémiotique tensive. Nous employons dans l'analyse le concept de l'événement, tout d'abord formulé par A. J. Greimas dans De l’imperfection et plus tard systématisé par Claude Zilberberg dans ses dernières oeuvres.
MOTS-CLÉS: Sémiotique Française; Exercise; Événement.

Introdução

Preocupada com o sentido, ou, mais precisamente, com o parecer do sentido, a teoria semiótica francesa tem suas bases nos estudos do semioticista lituano Algirdas Julien Greimas que, nos anos 1960-1980, desenvolveu
um modelo de análise textual baseado em um percurso, o percurso gerativo do sentido. Tal percurso, que constitui a denominada semiótica da ação, é composto de três níveis, organizados e combinados por meio de regras sintáxicas e semânticas. O percurso gerativo de sentido examina a construção dos sentidos de textos verbais, não verbais e sincréticos. Suas estruturas mais simples e abstratas compõem o nível fundamental onde a significação é apreensível a partir de uma oposição semântica mínima. O nível intermediário do percurso, o nível das estruturas narrativas, apresenta certo grau de concretização e simula o fazer do homem em busca de valores que dão sentido a sua existência, manifestando as relações ora contratuais ora polêmicas que ele estabelece em busca desses objetos de valor. Por sua vez, o nível discursivo, o mais concreto e complexo, é o lugar em que o sujeito da enunciação projeta atores, espaço e tempo e simula o mundo natural ou ficcional, construído pela linguagem, por meio de figuras que recobrem temas. São esses revestimentos temático-figurativos, o lugar do ideológico no discurso, de acordo com Barros (1988, p. 124).

No final da década de 1980, Greimas publica Semiótica das paixões, em coautoria com Jacques Fontanille, centrando os estudos semióticos na dimensão patêmica do discurso, e Da imperfeição, obra em que desenvolve o conceito de estesia e na qual elabora uma leitura semiótica da apreensão estética. Tais obras abrem caminho a estudos voltados para os afetos, inscritos e codificados nas linguagens. Assim, à semiótica da ação, associada ao inteligível, vêm somar-se reflexões sobre o sensível. Por sua vez, a partir dos anos 1990, Jacques Fontanille e Claude Zilberberg dão sequência aos estudos sobre o sensível, por meio da denominada semiótica tensiva.

Neste trabalho, aliamos elementos da semiótica da ação a elementos da semiótica tensiva com o objetivo de analisar um conto brasileiro contemporâneo “O gorro do andarilho” (BRAFF, 2006). O texto integra a obra A coleira no pescoço, finalista do prêmio Jabuti 2007. O autor, vencedor do prêmio Jabuti-2000, com o livro de contos À sombra do cipreste, destaca-se no panorama literário brasileiro por abordar em seus textos os desafios enfrentados pela sociedade brasileira contemporânea, por meio da focalização de temas como “a incomunicabilidade, a apatia, as inações, a pobreza, a luta de classes e a exploração do trabalho”, segundo Silva. Ainda de acordo com a pesquisadora, “[...] as personagens braffianas carregam, em alguma medida, o estigma de uma sociedade dilacerada” (SILVA, 2011, p. 111-115), como se observa nas páginas do conto em análise por meio da construção do ator Andarilho.

No conto “O gorro do andarilho”, objeto desta análise, o ator protagonista é um sujeito cujo gorro – proteção do frio e único bem de que dispõe – é roubado por um companheiro, o Gordo, que reluta em devolvê-lo e ainda zomba do sujeito espoliado de seu objeto-valor. Isso ocasiona a irrupção de um acontecimento no texto, a morte do Gordo, operada pelo Andarilho. Tal acontecimento é o foco em que se centra a análise deste texto.

Procedemos a seguir a uma reflexão sobre os conceitos de rotina e acontecimento para, posteriormente, examinarmos o modo como esse acontecimento, tal como o entende Claude Zilberberg, irrompe no texto.

A concepção de acontecimento em Semiótica

Em sua obra Da imperfeição, Greimas (2002, p. 25) define a apreensão estética como uma fratura em que o sujeito se depara com um acontecimento extraordinário que, pontual e imprevisível, suspende o curso do tempo e petrifica o espaço, instaurando a fusão entre sujeito observador e objeto observado. O conceito de acontecimento, elaborado por Claude Zilberberg (2007), pode começar a ser lido sob essa perspectiva. O semioticista francês, ao desenvolver a noção de acontecimento, concebe-a em oposição ao fato. Desse modo, destaca a relação de oposição entre acontecimento e fato:
[...] o fato tem por correlato intenso o acontecimento, o que equivale dizer: o fato é o resultado do enfraquecimento das valências paroxísticas de andamento e de tonicidade que são as marcas do acontecimento. Em outras palavras, o acontecimento é o correlato hiperbólico do fato, do mesmo modo que o fato se inscreve como diminutivo do acontecimento. Este último é raro, tão raro quanto importante, pois aquele que afirma sua importância eminente do ponto de vista intensivo afirma, de forma tácita ou explícita, sua unicidade do ponto de vista extensivo, ao passo que o fato é numeroso. É como se a transição, ou seja, o “caminho” que liga o fato ao acontecimento, se apresentasse como uma divisão da carga tímica (no fato) que, no acontecimento, está concentrada. (ZILBERBERG, 2007, p. 16).

Isso quer dizer que quando a intensidade da carga tímica3 é fraca, temos o fato, o que ocorre com mais frequência no cotidiano. Nesse caso, o andamento é desacelerado e a tonicidade é átona na valência de intensidade4, ao mesmo tempo em que, na valência de extensidade, a temporalidade é prolongada e a espacialidade aberta, o que corresponderia à “divisão da carga tímica” a que se refere o autor. Quando a carga tímica das valências tensivas é recrudescida, o que é incomum, temos o acontecimento, ou seja, o andamento5 da valência de intensidade é acelerado, e a tonicidade6 é tônica, acompanhados de uma temporalidade momentânea em um espaço fechado na valência de extensidade, equivalendo à concentração da carga tímica, como se observa na passagem acima.

O autor de Elementos de semiótica tensiva (2011, p. 164-165) afirma que a reflexão sobre o acontecimento é anterior à linguística e à semiótica. Essa reflexão remonta a estudos de Descartes sobre a admiração. Esses estudos propiciam ao autor destacar a importância do intervalo existente entre o esperado, que seria o foco e seu objeto, e o inesperado, isto é, a apreensão e seu objeto. Nessa perspectiva, opõe a admiração à percepção. Zilberberg considera que a primeira, como “intensidade repentina e superior daquilo que sobrevém” é inerente ao objeto acontecimento. A admiração, relacionada ao sofrer, penetra no espaço tensivo e instala a percepção como seu correlato, “inacentuado ou desacentuado” (ZILBERBERG, 2011, p. 165). A percepção, por sua vez, se vincula ao agir. Assim, em contraposição ao estado, que é resolução dos sincretismos intensivo e extensivo projetados pelo discurso, o acontecimento é a figura do inesperado, por isso não pode ser antecipado. É, portanto, “algo afetante, perturbador, que suspende momentaneamente o curso do tempo” (ZILBERBERG, 2011, p.169). Todavia, o tempo não pode ser impedido de retomar o seu curso, e o acontecimento esmaece de tal forma que se potencializa, tornando-se legível e inteligível (ZILBERBERG, 2011, p.169).

Além disso, segundo o autor (2007, p. 16), a configuração do acontecimento, assim como a configuração do exercício (ou rotina), não ocorre apenas na concentração ou na divisão da carga tímica do sujeito, pois a relação entre o sujeito e seu campo de presença, lugar onde agem as grandezas tensivas, é mediada pelos modos semióticos. O conceito de modo é introduzido nos estudos sobre o acontecimento, em semiótica, tendo em vista explicitar e resolver o sincretismo existencial entre fato e acontecimento, e ainda para determinar o “precipitado de sentido que constitui, tanto coletiva quanto individualmente, o acontecimento” (ZILBERBERG, 2007, p.16).

No artigo “Le libertinage comme forme de vie”, Zilberberg (2012, p. 4) ratifica a afirmação de que os modos constituem o sentido no acontecimento ao asseverar que os modos semióticos visam à relação do sujeito com o que o avizinha, ou seja, com o campo de presença. Nessa relação, ora o sujeito controla o campo de presença, ora dele escapa. Servindo de mediação entre o esquema e o discurso, esses modos se dividem em modos de eficiência, modos de existência e modos de junção, a fim de explicarem a relação do sujeito com o que está a sua volta.

Dessa forma, com base na natureza dos modos semióticos, o acontecimento comporta, simultaneamente, “o sobrevir para o modo de eficiência; a apreensão para o modo de existência; a concessão para o modo de junção” (ZILBERBERG, 2007, p. 24). Já o conseguir, como modo de eficiência, a focalização, como modo de existência e a implicação, como modo de junção, complementam-se na constituição do exercício (ou rotina), termo mais próximo do agir, como esclarece Zilberberg (2007, p. 24-25).

Os modos de eficiência representam a forma como as grandezas de intensidade e de extensidade penetram no campo de presença do sujeito sob as condições do tempo. Tem-se uma oposição entre o sobrevir e o conseguir. O sobrevir é entendido como negação do pervir, ou seja, aceitação do inesperado, que é o acontecimento. Porém, quando o sujeito requisita a instalação das grandezas tensivas em seu campo de presença, tem-se o conseguir.

Tanto o sobrevir quanto o conseguir são regidos pelas subvalências de andamento e de temporalidade, cabendo ao sobrevir o andamento acelerado. Tendo em vista a extensão temporal, ao conseguir concerne o agir e a paciência (ZILBERBERG, 2007, p. 18-21) e ao sobrevir cabe, nas palavras de Zilberberg (2007, p. 19) “a brevidade, a do sofrer, que o inesperado, precipitadamente, impõe ao sujeito”. Assim, no sobrevir, as competências do sujeito são excedidas pelo tempo de forma instantânea e devastadora, enquanto a lentidão do conseguir respeita os limites de tempo que o sujeito reconhece (ZILBERBERG, 2012, p. 4).

Sobre os modos de existência, o semioticista francês afirma que têm a função de alongar “as consequências subjetais abertas pelo modo de eficiência” (ZILBERBERG, 2012, p. 5). De acordo com Zilberberg (2012, p. 5), a surpresa, determinada pela modalidade do sobrevir, embaralha o jogo do antes e do depois, permitindo que o sujeito passivo, “espectador de seu próprio conflito” seja apreendido. O sujeito se vê em uma situação para a qual não está preparado, atualizado, pois não espera pela surpresa. Na apreensão, também está presente a exclamação, associada às valências de tempo e de tonicidade, instalada no campo de presença do sujeito, assim como o sobrevir. O conseguir é manifestado pelo foco e pela espera. Esta está sob o controle do tempo, assim como o modo de eficiência. Ela se manifesta pela paciência e pela impaciência, que não são medidas pela realização de um programa de junção. Nas palavras do pesquisador, “o sujeito paciente julga a velocidade razoável e suportável, enquanto o impaciente a considera insuportável” (ZILBERBERG, 2012, p. 5).

Sendo assim, como observa Zilberberg (2007, p. 21-23), dos modos de existência, que são dependentes dos modos de eficiência, fazem parte a focalização e a apreensão. A focalização caracteriza o sujeito operador, que visa a algo e, por isso, ela “se inscreve como mediação entre a atualização e a realização” do sujeito. Em oposição, a apreensão caracteriza “o estado do sujeito de estado” atônito com algo que lhe aconteceu, o que corresponde ao estado de potencialização do sujeito.

Em seu Dicionário de Semiótica, Greimas e Courtés (2011, p. 279) descrevem o termo junção como “a relação que une o sujeito ao objeto, isto é, a função constitutiva dos enunciados de estado”. Essa relação a que se referem os pesquisadores pode ser de conjunção, disjunção, não conjunção e não disjunção, consoante o quadrado semiótico. Na perspectiva tensiva, “o termo se refere à condição de coesão pela qual um dado, sistemático ou não, é afirmado” (ZILBERBERG, 2007, p. 23). Para que essa coesão se estabeleça, os modos de junção requerem a implicação e a concessão. Na implicação, há um respaldo mútuo entre o direito e o fato que, representado pelo “porque”, corresponde à expressão “se a, então b”. Na concessão, há uma discordância entre o direito e fato, representada pelo “embora” e pelo “entretanto”, correspondendo à expressão “embora a, entretanto não b” (ZILBERBERG, 2007, p. 23, grifos do autor). 
Logo,
A tensão própria à sintaxe juntiva opõe a concessão à implicação. Como categoria, a concessão é emprestada à linguística que considera como expressão de uma “causalidade inoperante”, ou seja, que o sujeito constata que a causa que o solicita não produz a consequência esperada. A esse título, a concessão é uma das vias de acesso à semiótica do acontecimento. (ZILBERBERG, 2012, p. 8)

Assim, o acontecimento é a essência do sistema que compõe o modo quando “concebido como sobrevir, ou seja, como realização do irrealizável”. Esse sistema
[...] leva em conta a modalidade implicativa do realizável. Por sua vez, o acontecimento dá como certa a modalidade concessiva que instaura um dado programa como irrealizável e um contraprograma que, no entanto, levou a cabo sua realização: “não era possível fazer isso e, no entanto, ele o fez!”. (ZILBERBERG, 2011, p. 176-177).

Considerando, pois, a relação (tensiva ou não) entre o direito e o fato, Zilberberg (2012, p. 5-6) conclui que a grandeza do sobrevir não faz parte da espera do sujeito. Na espera, a relação no campo de presença é implicativa. No inesperado, é concessiva. Dessa forma, os enunciados implicativos são considerados normais, ordinários. Já os enunciados concessivos são tônicos, motivo pelo qual, na concessão, aquilo que aconteceu de fato prevalece sobre o que deveria ter acontecido (como se esperava que acontecesse).

A sintaxe do acontecimento

Zilberberg (2011, p. 169-171) afirma que é necessário verificar as dinâmicas intensivas de andamento e de tonicidade e as dinâmicas extensivas de temporalidade e de espacialidade produzidas pelo acontecimento no espaço tensivo. Na intensidade, segundo o autor, o andamento e a tonicidade agem ao mesmo tempo e repentinamente, provocando desorientação modal no sujeito e falta de atitude. A tonicidade afeta o sujeito integralmente de tal modo que o acontecimento, quando pode ser assim denominado, “absorve todo o agir e de momento deixa ao sujeito estupefato apenas o sofrer” (ZILBERBERG, 2011, p. 171, grifos do autor). Na extensidade, a temporalidade é “fulminada, aniquilada” e sua recomposição “está condicionada à desaceleração e à atonização, ou seja, ao retorno àquela atitude que o acontecimento suspendeu momentaneamente” (ZILBERBERG, 2011, p. 171). O sujeito deseja voltar a controlar e dominar a duração para, de acordo com sua vontade, nas palavras de Zilberberg (2011, p. 171), “alongar o breve ou abreviar o longo”. Na espacialidade, deixa de existir a escansão do aberto e do fechado, uma vez que o aberto se ausenta do campo de presença a fim de manter apenas o fechado. Desse modo, o sujeito fica paralisado, estarrecido, como se o seu ambiente deixasse de existir (ZILBERBERG, 2011, p. 172).
Nas palavras de Zilberberg (2011, p. 174), o acontecimento tem uma “valência intensiva complexa e compõe um andamento extremo, o da instantaneidade, e uma tonicidade superior, sempre difícil de formular”, visto que é vivenciada. Por isso, é associada aos modos de existência. Desse modo, embora o que sobrevém não possa ser atualizado, pode “ser relembrado enquanto permanecer vívida a subvalência de tonicidade” (ZILBERBERG, 2011, p. 174). 

Semanticamente, segundo o semioticista, o produto do andamento e da tonicidade, na opinião do pesquisador “seria a força que precipita o acontecimento em discurso” (ZILBERBERG, 2011, p. 175), entendendo como andamento a velocidade de penetração, que é composta pela velocidade de desagregação e pela velocidade de apassivação, ao mesmo tempo em que a tonicidade é metaforicamente representada pelo lexema choque – lexema comum na maneira de falar contemporânea e que configura a virtualização do estereótipo que geralmente o acompanha (ZILBERBERG, 2011, p. 175).

Logo, no acontecimento,
[...] o sujeito se vê em conjunção com um sobrevir que transtorna e por vezes suprime a duração e a espacialidade. [...] O sobrevir do acontecimento vem anular a própria textura do tempo, isto é, a “virtude” potencializante da temporalidade.[...]
,
O acontecimento, na qualidade de grandeza tensiva, deve ser apreendido como uma inversão das valências respectivas do sensível e do inteligível. Marcado por um andamento rápido demais para o sujeito, o acontecimento leva o sensível à incandescência e o inteligível à nulidade. (ZILBERBERG, 2011, p. 189-190)
Desse modo, a temporalidade só recupera a memória suspensa pelo acontecimento por meio de um contraprograma de freagem específico, desenvolvido pelo discurso conforme se restaura sua historicidade (ZILBERBERG, 2011, p. 189-190), ou seja, quando se transforma em exercício. Nesse sentido, como diz Zilberberg (2007, p. 25-26), o exercício e o acontecimento se configuram como grandes orientações discursivas divididas em discurso do exercício e discurso do acontecimento. O primeiro se associa ao discurso histórico, que se interessa pela “minúcia dos exercícios e dos funcionamentos”. O segundo se associa ao discurso mítico, tendo em vista sua relação com a surpresa e com o que dela resulta.

Concluídas as reflexões acerca da noção de acontecimento em semiótica, passamos à análise de “O gorro do andarilho”.

O acontecimento em “O gorro do andarilho”: da semiótica do inteligível para a semiótica do sensível

No conto “O gorro do andarilho”, o ator, que é nomeado pelo papel temático de “andarilho”, é um sujeito de estado manipulado pelo desejo de recuperar seu gorro, furtado por outro companheiro, o Gordo. O Andarilho é um homem solitário, que se encontra a contragosto na companhia do Gordo. O gorro é seu único bem, protegendo-o contra o frio que sente vivendo na rua, depois de ter sido privado do emprego e da família. Ao acordar um dia depois de uma sesta, o Andarilho vê seu gorro na cabeça do Gordo, pede o objeto-valor de volta várias vezes, mas este, no papel de antissujeito, não o devolve e ainda ri incessantemente do proprietário do objeto. Crendo ter direito ao gorro e sentindo-se menosprezado pelo Outro, o Andarilho, utilizando uma pedra, golpeia o Gordo na cabeça e recupera o objeto-valor.

Tendo em vista o percurso narrativo do ator Andarilho, ele é um sujeito em estado de errância que dorme à beira das estradas, sentindo muito frio. No primeiro inverno nessa condição, o gorro é doado a ele por um transeunte, metaforicamente figurativizado como um “anjo” – “Abriu bem os olhos, o mais que pôde, pois queria ver a cara do anjo” (BRAFF, 2006, p. 128). Conjunto com o gorro, o sujeito acostuma-se ao calor proporcionado pelo objeto, sinônimo da proteção que perdera quando ficou desabrigado. Sete anos após tal fato, ao acordar da sesta do almoço e ver o gorro na cabeça do Gordo, o Andarilho percebe que está disjunto do objeto-valor. Ele volta a sentir o frio de outrora e é modalizado pelo querer-fazer, recuperar o objeto. Atordoado pelo inesperado roubo, o Andarilho pede ao Gordo que lhe devolva o gorro – “Me dá!” (BRAFF, 2006, p. 127) –, mas o Gordo revela-se um antissujeito e quer não-fazer; ou seja, devolver o objeto, como se evidencia na passagem: “Como resposta, uma gargalhada sem dentes e de barba suja, desgrenhada” (BRAFF, 2006, p. 127). O riso exacerbado do Gordo intensifica o desejo do Andarilho de recuperar o objeto. O antissujeito ri, como resposta ao pedido de devolução do gorro: “[...] e o Gordo se finava naquela gargalhada [...]” (BRAFF, 2006, p. 129). Nesse momento, o Andarilho assume o papel actancial de sujeito do fazer e golpeia a cabeça do antissujeito com uma pedra. Assim, o Andarilho, novamente em estado de conjunção com o gorro, conclui com sucesso a performance de recuperação do objeto-valor: “O gorro, finalmente recuperado” (BRAFF, 2006, p. 130).

Considerando os conceitos de rotina e acontecimento, consideremos as passagens do texto:
O primeiro inverno passado na estrada refluiu como sensação, aquele frio na cabeça. O frio que então sentia machucava-lhe o corpo todo, mas de uma forma tão aguda que o céu acabava distanciando-se muito, como uma coisa inatingível. (BRAFF, 2006, p. 128).

Quando acordou da sesta, as pálpebras desgrudando-se ainda com dificuldade, a primeira coisa que viu foi seu gorro de lã, como um sol colorido na cabeça do Gordo. Então sentiu frio na cabeça, um frio antigo, e uma náusea gelada subiu-lhe do estômago cheio até inundar sua boca de um gosto amargo: uma sensação de vida inútil. (BRAFF, 2006, p. 129).

A sesta, no conto, pode ser considerada um fato, pois é algo corriqueiro, rotineiro para o Andarilho e faz parte do “universo de excessivo entorpecimento, sem qualquer expectativa de que algo novo irrompa na rotina em que o sujeito vive imerso” (MERÇON, 2009, p. 396).

Segundo o dicionário Houaiss (2009), o lexema “sesta” pode ser definido como “repouso após o almoço”. Outro significado pode ser “ausência, cessação de movimento, de trabalho”. Tais sentidos nos levam a observar que, no texto de Braff, o ator Andarilho se encontrava, antes da perda do gorro, fazendo a sesta. Assim, as valências de intensidade e de extensidade, pressupõe-se, estavam enfraquecidas. Isso porque as subvalências de andamento e de tonicidade apresentavam uma desaceleração das atividades rotineiras do sujeito, um relaxamento que ele se permitia durante o repouso. Da mesma forma, em relação à valência extensiva, a subvalência da temporalidade pode ser relacionada à sesta, enquanto extensão do almoço, pois fica pressuposto que ela teve uma duração relativamente longa, como se pode notar na passagem: “[...] as pálpebras desgrudando-se ainda com dificuldade [...]” (BRAFF, 2006, p. 129). Além disso, o andarilho encontrava-se em um espaço aberto, ou seja, à sombra uma árvore, a gameleira (BRAFF, 2006, p. 128). Isso se torna perceptível na passagem: “[...] sol que atravessava a copa da árvore e vinha cair em feixes longos e delgados sobre os dois homens que digeriam o almoço, sentados sobre pilhas de pedras” (BRAFF, 2006, p. 129).

Ao acordar da sesta, algo incomum acontece: o Andarilho vê seu gorro na cabeça do companheiro de estrada, o Gordo. Pode-se considerar que nesse instante o modo de eficiência do conseguir, grandeza que caracteriza o esperado por parte do sujeito, dá lugar ao sobrevir – instalação do inesperado no campo de presença do sujeito (ZILBERBERG, 2007, p. 18). O Andarilho percebe nesse momento que está desprovido do calor do objeto e, consequentemente, do conforto que o gorro lhe proporcionava: “Quando acordou da sesta, [...] a primeira coisa que viu foi seu gorro de lã, como um sol colorido na cabeça do Gordo. Então sentiu frio na cabeça” (BRAFF, 2006, p. 129). Estabelece-se, assim, uma tensão na narrativa. A carga tímica do sujeito é intensificada, a partir da ruptura que sofre em sua rotina de dormir, aquecido com o gorro na cabeça, e acordar com a constatação do inesperado roubo do gorro. 

Arrebatado pelo sobrevir, ou seja, pelo “andamento mais vivo que o homem, na condição de sujeito sensível, pode sofrer” (ZILBERBERG, 2011, p. 170), marca do acontecimento, no momento em que acorda e vê o gorro na cabeça do antissujeito, o Andarilho passa a ser apreendido pelo sofrer: “[...] um frio antigo, e uma náusea gelada subiu-lhe do estômago cheio até inundar sua boca de um gosto amargo: uma sensação de vida inútil” (BRAFF, 2006, p. 129).

Como o modo de existência, depende do modo de eficiência diante do sobrevir, ou seja, do inesperado roubo do gorro, evidencia-se que o Andarilho é o sujeito que apreende e é ao mesmo tempo apreendido por aquilo que o apreende, pois, de acordo com Zilberberg (2007, p. 22) “apreender um acontecimento, um sobrevir, é, antes de tudo, e talvez principalmente, ser apreendido pelo sobrevir”. Nesse momento, o sujeito é reportado, por meio de suas lembranças, a um período específico de sua vida: o primeiro inverno passado na estrada, momento em que “Tão-somente vivia por não saber outra coisa” (BRAFF, 2006, p. 128). Revela-se aí a consternação do Andarilho frente ao acontecimento. Ao mesmo tempo, as figuras “frio”, “náusea gelada”, “gosto amargo” revelam notações somáticas que manifestam as sensações provocadas no sujeito pelo distanciamento do objeto.

Sem o calor proporcionado pelo gorro, o sujeito, estupefato diante do acontecimento, afetado, perturbado e com o curso do tempo momentaneamente suspenso, rememora o primeiro inverno passado na estrada: “O primeiro inverno passado na estrada refluiu como sensação” (BRAFF, 2006, p. 128). Com essa reminiscência, no momento em que sofre o roubo do gorro, o Andarilho volta a sentir, na cabeça, a mesma sensação de frio de outrora, que machucava todo seu corpo de forma aguda. Nota-se uma nova notação somática, figurativizada nessa passagem em que o lexema “refluir”, no sentido do retrocesso no tempo, intensifica a sensação de frio sentido no pretérito pelo sujeito, que, anteriormente aquecido volta a senti-lo de forma intensa. Temos então uma aceleração do andamento do discurso, associada a uma acentuação do sofrer do sujeito.

O prazer do conforto proporcionado pelo gorro revela, por outro lado, a importância da sensorialidade na relação do sujeito com o objeto gorro. Três vezes, nas quatro páginas do conto, especialmente quando o Andarilho é impactado pelo sobrevir do acontecimento, o gorro é comparado ao sol: “Seu gorro como um sol colorido na cabeça do Gordo” (BRAFF, 2006, p. 127). Outro símile, em que se nota também a presença da sinestesia, se manifesta no texto quando o Andarilho relembra o dia em que recebeu o objeto: “O gorro jazia imóvel sobre seu peito, feito uma propriedade sua, tão sólido como um sol colorido e quente” (BRAFF, 2006, p. 128). A reiteração do atributo quente nessas passagens sugere, pois, que o calor proporcionado ao Andarilho pelo gorro é intenso e, consequentemente, importante para o sujeito, revelando o auge da apreensão do valor do objeto pelo sujeito. Lembremos que a percepção estética, como afirma Greimas (2002, p. 35), pode ocorrer sobre o plano visual, associado a uma hierarquia de sensações na qual a luz se situa no nível mais profundo. No texto braffiano, ela é manifestada pelo colorido do sol.

Nota-se ainda que o enunciador explora a sensação tátil que, dentre todas é a mais profunda, segundo Greimas (2002, p. 85), o que corrobora a intensidade do desejo do Andarilho de manter a conjunção com o gorro. Essa profundidade da sensação tátil, relacionada ao calor proporcionado pelo objeto, ilustra a tonificação cada vez mais acentuada do acontecimento no eixo da intensidade, conforme diz Zilberberg (2011, p.74-75). Trata-se, portanto, da mistura sinestésica entre as sensações da visão e do tato que, ao mesmo tempo, intensifica a percepção do sujeito em relação ao valor do objeto perdido.
O Andarilho, nesse momento, sem o gorro é tomado pela sensação da inutilidade de sua vida: “Então sentiu um frio na cabeça, um frio antigo, e uma náusea gelada subiu-lhe do estômago cheio até inundar sua boca de um gosto amargo: uma sensação de vida inútil” (BRAFF, 2006, p. 129). 

À medida que o sujeito apreendido pelo acontecimento se lembra do frio que sentira no passado, recorda-se também do momento em que ganhou o gorro. Podemos observar, nesse momento, a representação implicativa em que há um respaldo mútuo entre o direito e o fato (ZILBERBERG, 2007, p. 23): se o gorro fora jogado sobre seu peito, então lhe pertencia. Contudo, o sujeito admirado também percebe que o mesmo gorro, que há tanto tempo lhe pertencia, que era seu por direito, de repente está na cabeça de outro sujeito. Tal constatação revela a natureza concessiva do acontecimento, em que se dá a “realização do irrealizável” pelo sobrevir (ZILBERBERG, 2011, p. 176-177), isto é, embora não parecesse possível ter o gorro roubado pelo Gordo, o companheiro roubou seu objeto.

A temporalidade, até então aniquilada pelo sobrevir, abreviada pelo andamento acelerado, associado ao sofrer do andarilho se recompõe, quando ocorre respetivamente a desaceleração e a atonização do andamento e da tonicidade, ou seja, quando o sujeito retorna à atitude momentaneamente suspensa pelo acontecimento (cf. ZILBERBERG, 2011, p. 171). Nessa perspectiva, observemos a passagem a seguir do início do texto: “Seu gorro de lã, como um sol colorido na cabeça do Gordo, foi a primeira coisa que viu quando acordou. Então pediu uma primeira vez, a mão teimosa estendida” (BRAFF, 2006, p. 127). 

Observa-se no excerto citado que, no campo de presença do sujeito, a tensão, ocasionada pela primeira percepção de que o gorro estava na cabeça do Gordo, é atenuada. Portanto, a intensidade (andamento e tonicidade) do sobrevir esmaece à proporção que na extensidade, o tempo suspenso volta a existir. Nesse momento, ocorre um relaxamento das tensões do sujeito e ele pede, pela primeira vez, que o objeto lhe seja devolvido: “− Me dá” (BRAFF, 2006, p. 127).

A resposta do Gordo ao pedido do Andarilho é uma gargalhada. Outro pedido e, como retorno, o sujeito se depara com o riso ainda mais alto do companheiro. Mas o Andarilho, não desiste de recuperar o gorro e pede novamente, tendo como resposta, outra gargalhada. Em um total de três pedidos de devolução do objeto, o Andarilho recebe três gargalhadas como resposta. Assim, conforme o sujeito suplica reiteradamente que o Gordo lhe devolva o gorro, seu desejo de conjunção com o objeto se intensifica, e o enunciador desvela no texto a forma como se dá a percepção da gargalhada pelo sujeito: “gargalhada sem dentes” – “ria cada vez mais alto” – “se finava afogado naquela gargalhada”.
Diante da recusa do Gordo em devolver o gorro, o Andarilho o apedreja – “A pedra que rachou a cabeça do Gordo e silenciou todas as histórias que ele contava [...]” (BRAFF, 2006, p. 130) – e entra em conjunção com o objeto novamente: “O gorro, finalmente recuperado, tinha uma pequena mancha de sangue [...]” (BRAFF, 2006, p. 130). Para o Andarilho, apedrejar o Gordo é um gesto natural, como revela a passagem em que percebe a mancha de sangue no objeto: “[...] pequena mancha de sangue, que em pouco tempo estaria seco, apenas uma pequena mancha escura” (BRAFF, 2006, p. 130).

A agressão e a morte do Gordo, figurativizada no texto pelo apedrejamento, configura o que Lombardo (2005, p. 279) chama de “justiça selvagem”: a devolução do mal com o mal, que constitui a vingança – paixão antiga, praticada desde a mitologia grega pelos deuses, mas que passou a ser considerada negativa pelo cristianismo ao opô-la ao perdão. Ainda segundo a pesquisadora, na modernidade, com o advento das leis que organizam a justiça, a “prática selvagem do castigo” passou a ser condenada e essa paixão deixou de existir enquanto prática social.

Nesse sentido – deve-se ressaltar – ao praticar a vingança como justiça selvagem, o Andarilho revela o processo de desumanização a que foi submetido, apreensível no modo natural como ele encara o apedrejamento e morte do Gordo: “Aquele riso grosso, do Gordo, não era uma alegria leve e doce, provida com as suavidades da vida. Não era. Seu riso vinha de uma região obscura, quase o inexplicável, quando se chama a morte” (BRAFF, 2006, p. 138).

No desenlace do conto, o Andarilho volta a sua rotina de errante, perambulando pela estrada, após recolocar o gorro na cabeça, como se percebe na passagem: Apesar de ser uma tarde quente de sol, o Andarilho, com seu gorro na cabeça, pôs-se na estrada “como se tivesse onde chegar” (BRAFF, 2006, p. 130).

Conclusão

O conto examinado apresenta o acontecimento que irrompe no texto com o roubo do gorro pelo Gordo. Notamos que há um recrudescimento da carga tímica do sujeito Andarilho, pasmo com a ação do companheiro que não esperava ser efetivada. O Andarilho sente a intensificação da espoliação que sofrera até que ela se torna insuportável. O sujeito não aceita a perda do único objeto em que inscreve valor, o gorro, e mata o espoliador. Nesse sentido, o retorno do Andarilho à caminhada sem destino, após matar o companheiro, voltando a “[...] enfrentar as noites frias de inverno” (BRAFF, 2006, p. 130), revela ao enunciatário que ele retoma sua rotina, encarando o ato operado contra o Gordo, seu companheiro, como gesto natural.

O apedrejamento do Gordo que implícita seu assassínio se associa, pois, ao tema da desumanização do ator. Assim, o Andarilho, decepcionado com a perda do gorro, é agressivo e ataca fisicamente o outro, para recuperar seu objeto. Após esse ato, com o enfraquecimento das tensões acumuladas, o andarilho retorna ao estado de relaxamento. Desse modo, o enunciador tematiza, no texto, mais que a violência do Andarilho contra o companheiro, que ele encara de modo natural, como justiça selvagem, a violência contra o pária, que ele representa, operada por uma sociedade que o leva à marginalização social.

REFERÊNCIAS
BARROS, D.L.P. Teoria do discurso. Fundamentos semióticos. São Paulo: Atual, 1988.
BERTRAND, D. Caminhos da semiótica literária. Bauru: EDUSC, 2003.
BRAFF, M. A coleira no pescoço: contos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p. 139-160.
DITCHE, E. R.; FONTANILLE, J.; LOMBARDO, P. Dictionnaire des passions littéraires. França: Belin, 2005.
GREIMAS, A. J. Da imperfeição. São Paulo: Hacker Editores, 2002.
GREIMAS, A. J.; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. Trad. Alceu Dias Lima et. al. São Paulo: Contexto, 2011.
HOUAISS. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
MERÇON, Francisco. O "acontecimento" e o discurso literário do século XX. Alfa: Revista de Linguística, v. 53(2), p. 391-404, 2009. Disponível em . Acesso em: 17/out./2013.
SILVA, N. F. C. Sutilezas entre o interno e o externo: literatura e sociedade nos contos de Menalton Braff. 129 f. 2011. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara.
ZILBERBERG, C. Síntese da gramática tensiva. Significação - Revista Brasileira de Semiótica. Trad. Luiz Tatit, Ivan Carlos Lopes. São Paulo, n.25, p. 164-204, 2006.
ZILBERBERG, C. Louvando o acontecimento. Revista Galáxia. Trad. Maria Lucia Vissotto Paiva Diniz. São Paulo, n.13, p. 12-28, 2007.
ZILBERBERG, C. Elementos de semiótica tensiva. Trad. Ivan Carlos Lopes, Luiz Tatit e Waldir Beividas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011.
ZILBERBERG, C. Le libertinage comme forme de vie. Nouveaux Actes Sémiotiques, nº 115, 2012. Disponível em . Acesso em: 20/mar./2013.
Artigo recebido em março de 2016.

Artigo aceito em maio de 2016.

Notas:

1 Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da UNESP - Campus Araraquara, flaviakarlar@hotmail.com. O presente artigo integra a pesquisa de mestrado “Paixões, acontecimentos e formas de vida em contos de Menalton Braff. Uma abordagem semiótica”, realizada no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade de Franca – Unifran, com bolsa de pesquisa Capes Prosup.

2 Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela UNESP - Campus Araraquara, é coordenadora e professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade de Franca - Unifran, vl-abriata@uol.com.br. 

3 Segundo Denis Bertrand (2003, p.431), a tímia é a disposição afetiva que “determina a relação que um corpo sensível mantém com seu ambiente”. Quando essa relação é positiva, é considerada eufórica. Quando é negativa, é considerada disfórica.

4 Para Claude Zilberberg (2006, p.169), “a tensividade é o lugar imaginário em que a intensidade - ou seja, os estados de alma, o sensível - e a extensidade - isto é, os estados de coisas, o inteligível- unem-se uma a outra”. 

5 O andamento, ainda na perspectiva zilberberguiana, “rege a duração por uma correlação inversa, na medida em que a velocidade, para os homens, abrevia a duração do fazerQuanto mais elevada é a velocidade, menos longa é a duração - apresentando-se o ser unicamente como um efeito peculiar à lentidão extrema” (ZILBERBERG, 2006, p.171, grifos do autor).

6 A tonicidade está relacionada à espacialidade, principalmente no que tange à profundidade, pois, em uma correlação conversa, mais amplo será o campo de desdobramento da tonicidade, quanto mais forte ela for (ZILBERBERG, 2006, p.171).

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