segunda-feira, 20 de novembro de 2017

CRÔNICA

Recado a um jovem escritor

Você acha que morreria se não pudesse mais escrever, sua vida perderia o sentido sem a escrita? Então escreva. 

Dia desses recebi um email com três contos de carona. Seu autor me pedia que os lesse e opinasse. Ele deveria continuar escrevendo? O que deveria fazer para melhorar?

Meu caro jovem escritor, a primeira lição deve ser procurada no Rilke, o Rainer Maria Rilke. Não sou muito dado a conselhos, pois muitas vezes erro quando penso sobre o que eu mesmo devo fazer e tenho um medo terrível de ser levado a sério indicando a estrada errada a alguém.

Mas ler o Rilke, ah, isso recomendo sem medo de errar. Principalmente na carta em que ele diz ao jovem poeta: Consulte seu coração. Você acha que morreria se não pudesse mais escrever, sua vida perderia o sentido sem a escrita? Então escreva, pois você não tem outro remédio mesmo. Essa decisão pertence a cada um, é intransferível e deve ser tomada depois de um mergulho lento, silencioso, em si mesmo.

Ninguém, nem o maior ou melhor crítico literário, tem o direito de interferir em seu futuro, dizendo se você deve ou não continuar escrevendo. Caso você tenha dado ouvidos ao Rilke e depois de chegar
à conclusão de que sem escrever não dá. Ou, pelo contrário, sua conclusão poderá ser que a vida sem a escrita é possível, então não perca tempo com isso.

Mas mudando de assunto e respondendo à sua segunda pergunta. O que se deve fazer para melhorar, meu caro? Não sei. Juro que não sei. Venho tentando melhorar desde que nasci. Estou sempre tentando melhorar e não sei se tenho conseguido.

Faço e refaço muitas vezes a mesma coisa, tentando melhorar. Para início de conversa, o que significa melhorar? A escrita literária é expressão e como tal tem tudo a ver com seu caráter, sua personalidade, suas idiossincrasias.

Acredito que possa mudar, agora, melhorar pressupõe uma comparação. Uma coisa pode ser a diferença, coisa outra seria a melhora. Não sei, principalmente agora, depois de conceitos como o da modernidade líquida, fica difícil indicar caminhos neste sentido.

Cada um de nós, os que não entendem a vida sem a escrita, estabelece o lugar aonde quer chegar. Como dizer a alguém o que deve fazer para melhorar? Isso depende do que se quer com a escrita, do alvo proposto a ser atingido. Honestamente não me parece possível dizer a uma pessoa que vá para o sul se ela estiver decidida a ir para o norte.

Aventura ou não, meu jovem, não tenha medo da vida. Mas vá na direção que seu próprio coração mandar.  

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