quinta-feira, 23 de novembro de 2017

ENTREVISTAS QUE VOCÊ NÃO LEU

Esta coluna reúne entrevistas antigas de Menalton Braff que muitos de nossos seguidores não tiveram a oportunidade de ler. 
Entrevista com Menalton Braff

08 domingo abr 2012
Menalton Braff, recentemente, lançou seu novo romance “Tapete de Silêncio” pela Global Editora. No último número da Revista Macondo, entrevistamos o escritor – aproveite para relembrar alguns dos assuntos abrodados na ocasião.

Macondo: Você se sente mais à vontade escrevendo romances ou contos?

Menalton Braff: Sou por índole mais romancista do que contista. Sinto-me melhor nadando no oceano do que numa piscina. Não desgosto do conto, mas é uma experiência de pouca duração. Prefiro o convívio lento, prolongado, com as personagens, a estrutura, e a linguagem.

Macondo: Entre “À Sombra do Cipreste”, que completa, em 2012, treze anos, e “Tapete de Silêncio”, seu último livro recém-escrito, lançado agora pela Global Editora, algo mudou no seu processo de criação e escrita? O quê?

Menalton Braff: Não creio que tenha mudado. O que acontece é uma constante busca e isso implica um olhar mais agudo e mais atento, um trabalho com a linguagem mais intenso, mas o que eu procurava com “À sombra do cipreste” e o que continuo procurando ainda hoje: a minha inflexão, o meu jeito de fazer literatura.

Macondo: Quais seriam as principais diferenças, para você, entre os escritos de Salvador dos Passos, da década de 1980, e os de Menalton Braff?

Menalton Braff: Posso falar da principal diferença. O Salvador dos Passos foi  o “caderno de exercícios” do aluno Menalton. Há certa continuidade entre eles, se bem com um afinamento dos instrumentos. Mas uma diferença é grande: o Salvador era panfletário, ou disso se aproximava. O
Menalton deixou de querer salvar o mundo. Minhas inquietações se tornaram mais complexas e não consigo mais ver a sociedade da forma simplista como via. Eu via o homem através de óculos políticos. Agora quero ver o homem primeiro e, se for o caso, até botar os óculos, mas depois.

Macondo: Em 2000, seu livro de contos “À Sombra do Cipreste” ganhou o prêmio Jabuti de Melhor Livro de Ficção; este, ainda, um dos maiores reconhecimentos em forma de premiação do país. O quanto isso influenciou ou modificou sua carreira ulterior de escritor?

Menalton Braff: Eu nem diria que influenciou ou modificou. Melhor seria dizer viabilizou. Na verdade (e esta é a situação existente no Brasil), um autor obscuro, sem que lhe aconteça algo, permanecerá obscuro para sempre. É preciso alguma explosão para que se torne visível. É preciso que um livro se torne um fato noticiável para que apareça. Claro que não é esse o único caminho, mas esse foi o meu caminho.

Macondo: Como você vê a literatura contemporânea brasileira? Acompanha o lançamento de novos livros, produções de novos escritores nacionais?

Menalton Braff: A literatura não está mal, a não ser pela falta de leitores. Lê-se mais hoje no Brasil? Sim, isso é verdade. Mas o que se lê não merece o nome de literatura. Na medida do possível acompanho o que se está fazendo, tenho notícias das principais tendências. Tenho algumas leituras de obrigação (o que não impede o prazer) e isso não me permite ler tudo que gostaria. Mas alguns autores jovens eu consigo acompanhar.

Macondo: Você é uma pessoa bastante ligada às redes sociais – mantém um blog constantemente atualizado e interage com seus leitores através da rede. Como sente essa proximidade com os leitores? E, ainda, como vê a relação entre “internet” e “literatura”?

Menalton Braff: Me parece que estas mídias novas nos ajudam. Claro que se deve tomar o cuidado de não substituir o consumo e a produção da literatura pelo verdadeiro voyeurismo a que somos sempre tentados. Procuro me disciplinar, impor-me horários para não cair na cilada. A relação da internet com a literatura, segundo penso, é apenas de divulgação, a possibilidade de ir mais longe. Não acredito em uma literatura do internetês. O modo de se produzir (escrever a lápis em cadernos ‒ como fazia o Graciliano, usar uma Olivetti, como fiz boa parte de minha vida, escrever no computador, nada disso muda a estrutura mais profunda do pensamento).

Macondo: Como foi que começou a escrever livros de literatura infanto-juvenil? Qual sua relação com esses escritos, com o gênero, com o público-alvo…?

Menalton Braff: As perguntas todas estão relacionadas à mesma resposta. Como professor, que fui, convivia com adolescentes, conhecia suas idiossincrasias, seus valores, suas perplexidades e expectativas. Alguém me desafiou perguntando por que nunca havia escrito para aquele que era meu público imediato, com quem trabalhava todos os dias. A ideia demorou ainda algum tempo germinando. Mas um dia, depois de uma cena vivida, e envolvendo a cena com um conto que me parecia falhado, me ocorreu a vontade de tentar um romance juvenil. E assim me saiu a primeira publicação no gênero. Bem, procuro não fazer muitas concessões, pois acho que literatura juvenil ou infantil são de qualquer forma literatura. Alguns cuidados, entretanto, tenho de tomar. Por exemplo, as questões éticas não podem ser esquecidas. Quando se fala a um ser em formação, a responsabilidade é outra. Outro cuidado é com a linguagem. Não aderir à linguagem deles, usando gírias, que envelhecem um texto muito cedo, mas também não usar palavras “mortas”, como palor, périplo. Existem maneiras de se dizer isso, com um português mais moderno sem necessidade de ser modernoso.

Macondo: Você é formado em Letras e, durante anos, exerceu a atividade de professor. O Rubens Figueiredo, recentemente, numa entrevista, quando indagado se preferia escrever ou traduzir, respondeu que preferia, na verdade, dar aulas. E você, concilia bem as duas ocupações? Como vê a relação entre escrever e ministrar aulas?

Menalton Braff: Conciliei muito tempo, mas de maneira conflituosa. Na sala de aula somos obrigados a ensinar as normas, pois ninguém rompe com o que não conhece. Na hora de escrever, esquecia as normas e me dedicava às rupturas. Estou convencido de que um escritor que não tenha outra relação com os seres humanos a não ser intermediado por sua escrita, se empobrece. Então, não lastimo o tempo gasto em sala de aula, que poderia parecer um tempo roubado à literatura. Eram experiências de relacionamento humano que, penso eu, de alguma forma me enriqueciam. Mas é claro, sempre preferi escrever. Apesar do parentesco entre as duas atividades que cabem juntas no grande capítulo da comunicação.

Macondo: Fale-nos um pouco sobre alguns projetos futuros seus: novos livros que estão por vir, trabalhos, ideias a serem postas em prática, empreitadas pelo mundo literário…

Menalton Braff: Bem, começo pelos livros futuros: tenho dois livros já editados com contrato vencido, tenho quatro romances inéditos e duas coletâneas de contos esperando a vez. Além disso, continuo antenado ao mundo, e eventualmente surgem temas ou figuras para um conto ou outro, e de repente pode pintar assunto para um novo romance. Contribuo periodicamente com as revistas eletrônicas Bula e Carta Capital, aceito convites para eventos literários (palestras, mesas, salões de ideias e outros), tenho visitado escolas que adotaram livros meus para conversar com os alunos, viajo com bastante frequência. Mantenho meu blog e meu facebook, mais ou menos atualizados, leio quanto posso, às vezes me pedem um prefácio, uma orelha, enfim, atividade é o que não me falta.

Meu próximo livro, por minha vontade, será o romance O casarão da rua do Rosário. Gosto muito do resultado.

Macondo: Para finalizar, como já é hábito daqui, gostaríamos de pedir que você deixasse algumas palavras aos escritores que lêem a revista e que possuem um interesse muito próprio ligado ao “ler” e ao “fazer” literatura; muitas vezes, estão começando agora a esboçar primeiros escritos ou procurar um espaço para divulgação de trabalhos.

Menalton Braff: A primeira coisa que se pode dizer a um futuro escritor é que ninguém se torna escritor sem que tenha paixão pela leitura. Mas não uma leitura aleatória, como quem diz “Leio tudo que me cai nas mãos.” Sem essa! A quantidade de livros é ilimitada e nosso tempo é limitadíssimo. É preciso ser seletivo. Críticos, professores, resenhistas, escritores experientes devem ser ouvidos. Depois de produzir, mostrar. Há blogs onde se pode expor o que se produz, mas há os amigos ligados ao assunto, que também deve ler e, por que não, até os familiares devem ler. E participar de concursos, isso é imperioso. Quando se participa de um concurso, pelo menos três leitores se consegue. E depois, ou antes de tudo, se é o caso de poesia, ler Cartas a um jovem poeta, de Rilke. É a bíblia do poeta.

3 livros:

*Ao final das perguntas, como é de costume na seção “Entrevista”, pedimos para que Menalton Braff listasse três livros que, de alguma forma, foram importantes para a sua vida. São eles:

Dom Casmurro, de Machado de Assis
O lustre, de Clarice Lispector

Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust

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