Tapete de Silêncio


  • Finalista do Prêmio Jabuti 2012
O que fariam dez homens reunidos no coreto da praça da Matriz de Pouso do Sossego, numa noite chuvosa? Entre cochichos, risos abafados e pigarros, eles aguardam a meia-noite. Liderados pelo comerciante Osório, esses respeitáveis senhores de bem têm um dever a cumprir: manter a ordem e a honra do lugar onde vivem.

Tendo como cenário uma pequena cidade interiorana, nomeada ironicamente Pouso do Sossego, o autor cria dois planos narrativos: o primeiro tem a duração de uma noite e é narrado em primeira pessoa por Osório, cujo olhar conduz o leitor por essa longa e trágica noite; no segundo plano, batizado de "Coro", um narrador em terceira pessoa retoma episódios do passado.

Presente e passado dialogam ao longo do romance, num jogo de sombra e luz: as ações do presente são envolvidas pela noite, pela chuva, por sombras e vultos, ódios e rancores; os acontecimentos do passado desfilam coloridos, sobretudo pela chegada à cidade de ruidosa e alegre companhia circense.
Nesse microcosmo povoado de personagens emblemáticas, Braff desnuda os subterrâneos do poder, calcado na hipocrisia e na intolerância. Diferente de seu último romance, Bolero de Ravel, também publicado pela Global, em que o ficcionista detém suas tintas na composição de um único e enigmático personagem central, em Tapete de Silêncio pode-se dizer que Pouso do Sossego (e suas mazelas) constitui a peça nuclear do romance. E a tradição, moeda de honra do lugar, deve ser mantida com a paz dos cemitérios.

INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTA POSTAGEM:
  1. Dados do livro
  2. Preço
  3. Onde encontrar
  4. Trecho do livro
  5. Resenha
  6. Vídeo criado por alunos da Oi Kabum!

DADOS DO LIVRO:

Título: Tapete de silêncio
Editora: Global
Ano: 2011


PREÇO: de R$ 21,10 a R$ 32,00


ONDE ENCONTRAR:

Livrarias:

TRECHO DO LIVRO

"Esta chuva surpresa nenhuma, aquelas nuvens grossas amontoando-se a tarde toda no topo do morro escuro. Primeiro aviso se formando além da Vila da Palha, no alto. Então pensei, vai chover. Depois o vento frio que varreu por baixo a rua, arrepiando os braços da cidade. Da porta do armazém eu olhava na lonjura o morro: esta noite vai chover. Agente sentia com a pele, o sentido, mesmo sem pensamento, nosso corpo. E chovendo, assim, a cidade toda no resguardo, a televisão na sala. Com sol ou chuva, o recado firme pra nossa turma. De hoje não passa, o safado. Na praça, o banco debaixo da seringueira."


RESENHA:

TAPETE DE SILÊNCIO

Menalton Braff é, sem sombra de dúvida, um dos mais importantes romancistas brasileiros atuais. Conseguiu concretizar o sonho de todo escritor: dedicar-se integralmente à Literatura. Assim se explica, além do talento inquestionável e a criatividade fértil, seu sucesso como escritor. Tapete de Silêncio (Global Editora, SP, 2011) é seu décimo oitavo livro publicado. Em 2000, conquistou o Prêmio Jabuti__Livro do ano, com a coletânea de contos À sombra do cipreste. Várias vezes Menalton foi finalista dos mais importantes prêmios da literatura brasileira.

A narrativa se passa no povoado Pouso do Sossego. O nome do lugar já é uma metáfora, pois nesse microcosmo vivem as personagens principais e as secundárias, no seu mundo repleto de medos, cismas, dúvidas. A trama se inicia com dez homens reunidos no coreto da praça da Matriz. Por que a reunião? O que pretendem fazer? Liderados por Osório, esses respeitáveis senhores de bem têm um dever a cumprir: manter a ordem e a honra do lugar onde vivem. Bizarros executores de sentença lavrada por um pretenso juiz. Os acontecimentos da noite trágica são narrados em capítulos e Coros: os primeiros narram fatos atuais, contados por Osório, em primeira pessoa; os segundos, com foco narrativo em terceira pessoa, elucidam episódios do passado.
Ao longo do romance, presente e passado se misturam, em um jogo de sombra e luz. As ações do presente se passam à noite, sob a chuva e o frio; sombras e vultos, ódios e rancores, tudo compõe o quadro sinistro. A chegada à cidade de ruidosa e alegre companhia circense é o vetor que desencadeará os fatos macabros. O autor desnuda, com maestria, os subterrâneos do poder, alicerçado na hipocrisia, na intolerância, nos falsos valores. Poder-se-ia afirmar que Pouso do Sossego é a peça nuclear do romance. Como é denunciado na orelha do livro, a pequena cidade se arvora a defensora da tradição, moeda de honra do lugar, que deve ser mantida com a paz dos cemitérios.
Menalton Braff sempre se realçou, em toda sua obra, como um estilista, exímio conhecedor da língua portuguesa, autor que se preocupa não só com o conteúdo, mas também com a forma. Em Tapete de Silêncio, os capítulos são narrados pela personagem principal, Osório. Por isso, provavelmente, há uma espécie de licença gramatical, com uso repetido da próclise, no início da frase e o emprego de corruptelas, como “pra” e algumas expressões coloquiais, talvez para enfatizar a oralidade na narrativa.
Inteligente e sobriamente, tiradas filosóficas sobre os seres humanos, a vida e a morte, são inseridas no relato. Sobressai a atmosfera de mistério que antecede o crime, assim como a intrigante personagem da velha desconhecida, que arrasta seu anonimato e sua miséria, “distribuindo sua tosse por onde andava” e é encontrada morta na escada do coreto. Este mistério não é desvendado, o final do livro é aberto e também o crime hediondo, com a morte do sedutor, o assassinato em defesa da honra fica impune. É Osório que afirma: “A cidade toda, se pudesse saber o que se passou, apoiaria o que fizemos. Pelo menos as pessoas de bem desta cidade. Um crime , mesmo um crime de sedução, não pode ficar sem castigo. E severo para que sirva de escarmento”.

O romance Tapete de Silêncio é uma obra densa, que envolve o leitor em um mergulho nas regiões abissais da alma humana.


VÍDEO:

Vídeo criado por alunos da Oi Kabum! Rio de Janeiro