quarta-feira, 25 de setembro de 2013

UMA HISTÓRIA, VÁRIAS MÃOS - PRIMEIRO CAPÍTULO

Começa aqui o e-book coletivo do projeto UMA HISTÓRIA, VÁRIAS MÃOS.

O primeiro capítulo, que publicamos a seguir, foi escrito por Menalton Braff. Os próximos serão escritos por jovens entre 13 e 18 anos. As regras para participação estão reunidas no regulamento, publicado na barra lateral esquerda deste blog.

Os participantes devem entregar seus textos para disputar o segundo capítulo até meia-noite do dia 10 de outubro. O prazo para divulgação do resultado será divulgado no dia 11 de outubro e vai depender da quantidade de trabalhos inscritos.

Conheça, agora, o primeiro capítulo do e-book coletivo:

Capítulo 1

Ricardo entrou correndo na sala e, de repente, ainda ofegante, parou ao lado de sua carteira. Seus olhos arregalados engoliram as letras garrafais, letras de traço grosso e escuro, que o fizeram sentir frio. No recreio ninguém ficava nas salas ou nos corredores. As duas inspetoras de alunos ficavam por ali, para evitar qualquer invasão.
Sentou-se, leu novamente a mensagem estranha e dobrou a folha com intenção de examinar melhor mais tarde. Mas as letras estavam grudadas em seus olhos, caminhavam aos berros pelo cérebro, botando seus principais neurônios em estado de choque.
Ou larga do pé da Marina
ou vai ter motivo para se
arrepender


Quem poderia ter colocado aquele papel sobre sua carteira? Precisava descobrir para se defender. Pior coisa, pensou, é ter um inimigo sem rosto. Alguém da classe? Impossível, pois fora um dos últimos a sair e o primeiro a voltar.
Nunca tinha ouvido falar qualquer coisa sobre a Marina ter um apaixonado oculto pelas sombras do anonimato. Um admirador próximo e que não se revelava. Próximo, pois não fazia muito tempo que andavam juntos, e era quase sempre na escola. Poucas vezes em suas próprias casas.
E que tipo de ameaça: não diz o que pode ser o motivo para arrependimento. E se é um louco, desses capazes de cometer um crime de verdade?
Apalpou o papel dobrado no bolso. Talvez fosse o caso de levá-lo à polícia. Não, não faria isso. Era muito pouco para que os investigadores o levassem a sério. Contaria a seu pai? Sem dúvida. Era um modo de se proteger.
Na frente da sala, dona Silvana escurecia o céu com tanta nuvem: estrato, cúmulo e cirro, além dos nimbos, é claro, e todas as combinações. Dona Silvana desenhava na lousa, com mão delicada, raios brancos apontando para nosso planeta. Como entender o que ela dizia, se sua mente estava querendo ficar com febre, de tanta preocupação?
Precisava ter uma conversa com as inspetoras de alunos. No fim das aulas era o que deveria fazer. Alguém a fim da Marina?
Para o domingo, já estava convidado: iria com o Ronaldo e a família dele, inclusive a Marina, passar o dia no sítio do seu pai. Desde o prezinho frequentavam a mesma classe, ele e o Ronaldo. Uns dois anos depois foi que apareceu aquela menininha de cabelo curto e nariz arrebitado.
Com olhos atentos varreu a sala em todos seus trezentos e sessenta graus tentando descobrir se alguém o espionava. Só o Olavo olhava sorrindo para ele. Virou rápido o rosto para frente. O OLAVO?! Gritou seu pensamento. Um de seus melhores amigos? Sentiu as orelhas queimarem no exato momento em que um dos raios brancos de Dona Silvana se desprendeu da lousa e veio atingi-lo na cabeça. Um raio tão silencioso que só ele o percebeu.
O Ronaldo, duas carteiras à esquerda, concentrava-se copiando os desenhos da lousa. No domingo ficariam soltos no sítio, os três. Ou não. Me arrepender do quê?, ele pensava enquanto novamente por cima do ombro vasculhava o rosto de seus colegas. Me arrepender de não largar do pé da Marina? O que me podem fazer? Realmente muito desconfortável um inimigo sem rosto.
− O senhor, seu Ricardo, está com algum problema?
Ficou com o rosto que era um tomate maduro e baixou os olhos.
− Nem abriu o livro! Precisa de ajuda?
Ricardo sacudiu a cabeça, que não, e abriu o livro em qualquer lugar. Dona Silvana se aproximou, pegou seu livro e abriu no capítulo das nuvens.
− É de nuvens que estamos falando, seu Ricardo. De nuvens. E o senhor está muito acima delas. Está com a cabeça na lua.
Ricardo desculpou-se e prometeu não voltar a se distrair.  

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