quarta-feira, 16 de outubro de 2013

UMA HISTÓRIA, VÁRIAS MÃOS - CAPÍTULOS ESCRITOS

Nesta postagem você encontra todos os capítulos escritos até o presente momento. Antes de cada capítulo, informamos a data de sua inclusão.


Capítulo 1
(Publicado originalmente em 25 de setembro de 2013)

Ricardo entrou correndo na sala e, de repente, ainda ofegante, parou ao lado de sua carteira. Seus olhos arregalados engoliram as letras garrafais, letras de traço grosso e escuro, que o fizeram sentir frio. No recreio ninguém ficava nas salas ou nos corredores. As duas inspetoras de alunos ficavam por ali, para evitar qualquer invasão.

Sentou-se, leu novamente a mensagem estranha e dobrou a folha com intenção de examinar melhor mais tarde. Mas as letras estavam grudadas em seus olhos, caminhavam aos berros pelo cérebro, botando seus principais neurônios em estado de choque.

Ou larga
do pé da Marina
ou vai ter motivo
para se arrepender

Quem poderia ter colocado aquele papel sobre sua carteira? Precisava descobrir para se defender. Pior coisa, pensou, é ter um inimigo sem rosto. Alguém da classe? Impossível, pois fora um dos últimos a sair e o primeiro a voltar.
Nunca tinha ouvido falar qualquer coisa sobre a Marina ter um apaixonado oculto pelas sombras do anonimato. Um admirador próximo e que não se revelava. Próximo, pois não fazia muito tempo que andavam juntos, e era quase sempre na escola. Poucas vezes em suas próprias casas.

E que tipo de ameaça: não diz o que pode ser o motivo para arrependimento. E se é um louco, desses capazes de cometer um crime de verdade?

Apalpou o papel dobrado no bolso. Talvez fosse o caso de levá-lo à polícia. Não, não faria isso. Era muito pouco para que os investigadores o levassem a sério. Contaria a seu pai? Sem dúvida. Era um modo de se proteger.

Na frente da sala, dona Silvana escurecia o céu com tanta nuvem: estrato, cúmulo e cirro, além dos nimbos, é claro, e todas as combinações. Dona Silvana desenhava na lousa, com mão delicada, raios brancos apontando para nosso planeta. Como entender o que ela dizia, se sua mente estava querendo ficar com febre, de tanta preocupação?

Precisava ter uma conversa com as inspetoras de alunos. No fim das aulas era o que deveria fazer. Alguém a fim da Marina?

Para o domingo, já estava convidado: iria com o Ronaldo e a família dele, inclusive a Marina, passar o dia no sítio do seu pai. Desde o prezinho frequentavam a mesma classe, ele e o Ronaldo. Uns dois anos depois foi que apareceu aquela menininha de cabelo curto e nariz arrebitado.

Com olhos atentos varreu a sala em todos seus trezentos e sessenta graus tentando descobrir se alguém o espionava. Só o Olavo olhava sorrindo para ele. Virou rápido o rosto para frente. O OLAVO?! Gritou seu pensamento. Um de seus melhores amigos? Sentiu as orelhas queimarem no exato momento em que um dos raios brancos de Dona Silvana se desprendeu da lousa e veio atingi-lo na cabeça. Um raio tão silencioso que só ele o percebeu.

O Ronaldo, duas carteiras à esquerda, concentrava-se copiando os desenhos da lousa. No domingo ficariam soltos no sítio, os três. Ou não. Me arrepender do quê?, ele pensava enquanto novamente por cima do ombro vasculhava o rosto de seus colegas. Me arrepender de não largar do pé da Marina? O que me podem fazer? Realmente muito desconfortável um inimigo sem rosto.

− O senhor, seu Ricardo, está com algum problema?

Ficou com o rosto que era um tomate maduro e baixou os olhos.

− Nem abriu o livro! Precisa de ajuda?

Ricardo sacudiu a cabeça, que não, e abriu o livro em qualquer lugar. Dona Silvana se aproximou, pegou seu livro e abriu no capítulo das nuvens.

− É de nuvens que estamos falando, seu Ricardo. De nuvens. E o senhor está muito acima delas. Está com a cabeça na lua.

Ricardo desculpou-se e prometeu não voltar a se distrair.

Capítulo 2
(inserido nesta postagem em 16 de outubro de 2013)

Ricardo saiu da escola com a cabeça perturbada. Apalpou o bolso, pegou o celular e pensou em mandar uma mensagem para Marina, mas hesitou. Se o anônimo do bilhete descobrisse, com certeza Ricardo ia conhecer o “motivo para se arrepender”. Não ia conseguir se afastar por muito tempo de Marina, alguma coisa ia falar com ela. Andou depressa, pensando no caso. Entrou em casa e bateu a porta. Largou a mochila no sofá e correu pra cozinha.

– E aí, filho? Como foi na escola?

– Oi, pai. Foi mais ou menos, aconteceu uma coisa que não sai da minha cabeça, e eu tô um pouco preocupado.

– Diga – o pai de Ricardo aprumou-se na cadeira, dobrou o jornal e olhou para o filho.

– Olha isso – Ricardo pegou o bilhete no bolso e mostrou ao pai. Ele leu com a testa franzida e colocou o bilhete sobre a mesa.

– Então, eu acho que é um menino apaixonado pela Marina e que tem ciúmes de você, porque você é o melhor amigo dela.

– Eu pensei nisso, é o mais óbvio, mas e essa coisa de eu ter motivo pra me arrepender? Será que é algum menino querendo me botar contra a parede e me bater? Ou é um louco?

– Não acho que chegaria a esse ponto, Ricardo. Pensa: esse moleque não deve ser assim tão perigoso. Ele te mandou um bilhete, e não veio falar com você cara a cara. Não se preocupe, fale com o Ronaldo e a Marina no domingo. No sítio esse tal menino do bilhete não tem como saber que você andou com ela.

– Tá... eu vou ligar pro Olavo. Ele era o único além do Ronaldo que estava na sala quando eu achei o bilhete na minha carteira, pode ter sido ele quem mandou.

– Pode ser. Vai lá – disse o pai, e voltou ao jornal.

Ricardo subiu, pegou o telefone e teclou o número de Olavo. Esperou, andando nervoso em círculos no quarto.

– Alô?

– Olavo, é o Ricardo. Eu preciso que você me fale uma coisa, sem mentir, é muito importante.

– Nossa, fala então.

– Hoje, depois do recreio, alguém passou lá na sala e deixou alguma coisa em cima da minha carteira antes de eu entrar?

– Ah, eu fui o primeiro a chegar e não vi nada, você sabe. Tinha passado um menino loiro na sala pra falar com a Dona Silvana, mas ele saiu logo, nem prestei atenção.

O coração de Ricardo bateu mais rápido:

– Como era ele, como? O nome, você sabe? O ano, qualquer coisa!

– Ah, eu já falei! Loiro, e estava com um moletom verde de uma banda de rock. Mas por que você tá me perguntando isso? Eu já te falei do menino, agora me fala o porquê disso tudo.

– É que eu recebi um bilhete de alguém, de ameaça mesmo. Valeu, amanhã eu procuro por ele. Tchau.

– Ricardo, espera aí, rapidinho. A Marina sabe? Ela tá meio estranha com você ou é só comigo?

– A M-marina? Eu não conversei muito com ela hoje. Eu tenho que desligar logo, meu pai tá chamando. Tchau.

– Tá bom, então. Tchau.

Ricardo largou o telefone, sentou na cama e se apoiou no travesseiro. Um menino loiro rockeiro? Na escola, pelo menos, nunca o tinha visto. A não ser que fosse o Carlos, do oitavo ano B, que era loiro e escutava músicas do tipo. Não, ele babava pela Carol da sala dele. Hoje mesmo o tinha visto com um blusão vermelho, conversando com os amigos sobre videogame. Não podia descartar a opção de ser ele, mas não se preocupou muito. No dia seguinte iria procurar algum garoto loiro que curtia rock.

Ricardo se trocou, e desceu as escadas para almoçar, porque logo a sua mãe chegaria. No quarto dele, em cima do criado-mudo, o celular vibrou com o nome MARINA na tela, mas logo foi para a lista de chamadas perdidas.

Capítulo 3
(Inserido nesta postagem em 4 de novembro de 2013)

Marina suspirou e ficou contemplando o teto. Como queria falar com Ricardo! não falara com ele o dia inteiro. Então, a irmã de Marina entrou no quarto.

− Pensando na vida, Mari?

− Mais ou menos. Tô um pouco preocupada com o Ricardo. Sabe, ele andou muito estranho, hoje eu fui falar com ele, mas o garoto simplesmente saiu correndo para a sala de aula.
 − Mas esse menino, o Ricardo, sempre fala com você?

 − Caramba, você não sabe mesmo nada sobre mim, né? Ele é meu melhor amigo − riu.
Mas a campainha tocou. A irmã de Marina olhou pela janela do quarto e disse apenas:

− Visita. E pelo jeito, é pra você.

Marina desceu as escadas e se animou. Logo pensou: “é o Ricardo”. Abriu a porta e se deparou com o filho do padeiro do bairro, o Vítor, com um moletom de uma banda de rock.
− Ah, oi, Vítor − disse Marina, um pouco desanimada.

− Oi, Mari. Que foi, não tá feliz em me ver? − perguntou com uma voz falsamente magoada.
− Ah, não, não é isso, é que eu estava esperando outra pessoa.

− Quem? − perguntou o garoto rapidamente.

− Hum... ninguém especial. Diga.

−  Vai sair no fim de semana?

−  Vou sim, vou para um sítio com... amigos – respondeu Marina, pensando em Ricardo e Ronaldo.

− É... que pena. Fica bem − disse Vítor, abraçando a menina.

− Valeu. Tchau.

Vítor virou as costas, mas parou na calçada. Virou para Marina, sorrindo, e disse:
− Cuidado lá no sítio, e também com seus amigos. Eu... ah, deixa pra lá. Beijo.

Marina revirou os olhos, bateu a porta e subiu para o quarto. Deu uma olhada na janela e viu Vítor andando em direção à padaria, com as mãos no bolso. Virou-se para a irmã, que estava jogando no celular em cima da cama.

− Ah, que garoto doido!

A irmã riu, e então Marina se juntou a ela para jogar no celular, pensando que, em breve, receberia uma mensagem amiga de Ricardo.


Capítulo 4
(Inserido nesta postagem em 25 de novembro de 2013)

Já era noite e Ricardo nada. Nenhuma notícia. Marina não sabia se ligava para ele ou se esperava ele ligar. Resolveu ir dormir.

No dia seguinte, levantou apressada. Se arrumou e tomou café em 10 minutos. Quando chegou à escola, viu logo Ricardo. Parou na porta, olhando pra ele e lembrando o que Vitor tinha falado. Quando Ricardo a viu, saiu correndo e Marina pensou em voz alta:

− Ai, meu Deus! O que está acontecendo comigo e com Ricardo?

Todos a olharam, mas ela saiu fingindo que não tinha acontecido nada.

Ao entrar na sala de aula, Marina encontrou Katy, sua melhor amiga, chamou-a para desabafar e contou a história toda. Disse que Ricardo não estava mais falando com ela e que o Vitor foi a casa dela e disse:

− Cuidado lá no sítio e também com os seus amigos.

Katy ficou sem ter o que dizer. Não falou nada e ficou olhando para Marina espantada. Depois se acalmou, pensou um pouco, e aconselhou a amiga da seguinte forma:

− Se você quer saber o que está acontecendo de verdade, vai lá, procura o Ricardo e fala o que você quer falar há um tempão. Diz que você não entende o porquê dele estar assim com você e pergunta também o que você fez de tão ruim para ele. Eu tenho certeza que ele vai ter que te dar uma explicação, porque, sinceramente, já passou dos limites, amiga. E também procura Vítor e pergunta o que ele queria dizer com a frase “Cuidado lá no sítio e também com os seus amigos“. Acho que depois dessas duas conversas, todos os seus problemas serão solucionados.

− Obrigada amiga, você tem razão! Eu vou agora falar com o Ricardo e com o Vitor e vou exigir uma explicação. Depois te conto tudo, prometo!

Quando Marina foi falar com o Ricardo, a professora chegou à sala e mandou todos os alunos sentarem.

Marina então pediu a professora para ir ao banheiro, mas levou escondidos um papel e uma caneta colorida. Sentou em uma mesinha no corredor e escreveu:

Ricardo, me encontre
na quadra de futebol
quando a aula acabar.
Preciso falar com você
urgentemente!

Ao voltar para a sala, Marina colocou o bilhete discretamente em cima da mesa de Ricardo e foi para a sua carteira. Até que, finalmente, a aula terminou e ela saiu correndo para a quadra de futebol. Ficou alguns minutos esperando Ricardo, até que ele chegou...

Capítulo 5
(Inserido nesta postagem em 14 de dezembro de 2013)

 Marina respirou fundo e olhou nos olhos de Ricardo.

− O que está acontecendo entre a gente? O que foi?

Ricardo se fez de desentendido.

− Oi? Como assim?

− Você sabe! Marina fazia parte da ‘turma da paz’, mas ficava extremamente nervosa quando  os outros queriam faze-la de idiota. - Você está se afastando de mim, cada vez mais.

− Estou normal. Mais normal do que deveria estar.

− Ah, tá. Meu melhor amigo para de falar comigo e eu vou aceitar. Vou me afastar também, disse em tom sarcástico.

−  Marina, pode ter alguém nos observando neste momento. E depois eu vou ter que pagar pelo que estou fazendo. Não sei o que vou pagar exatamente, só sei que isso pode acontecer.

− Ahan? Se você estiver me zoando, Ricardo, sério mesmo, eu vou...

Ricardo olhou em volta preocupado. Suas mãos suavam, e ele não sabia o que fazer. O cara do bilhete podia aparecer a qualquer momento, apresentando o preço que Ricardo iria pagar por não se afastar da garota. Gostava tanto de Marina, a sua melhor amiga, e se afastar dela estava torturando-o. Resolveu abrir o jogo. “Ela vai ficar sabendo de qualquer jeito. Melhor saber por mim”, pensou o garoto.

− Recebi esse bilhete, olha!

Ricardo entregou o bilhete a Marina. Os olhos dela demonstravam surpresa. Ela leu o que estava escrito no pequeno papel e o entregou de volta.

− Bom, você fez certo. Se afastou. Mas errou em uma coisa: não me avisou, não me ligou, não atendeu minhas ligações! Poderia ter me falado pelo celular!

− Desculpa. Eu estava com medo. Agora, eu acho que a gente deve se afastar um pouco e só se falar por telefone, em casa, e não desgruda do seu celular. Enquanto isso, eu tento descobrir quem foi e você faz a mesma coisa. Ok?

− Tá bom. E agora?

− Não nos falamos mais, vamos embora sem dizer uma palavra. O escritor do bilhete pode estar  aqui, nos olhando. Tchau, Má.

− Tchau. Então os dois se viraram decididos. Marina foi para casa pedir ajuda ao silêncio de seu quarto, e Ricardo, ao contrário, já sabia o que fazer, mas só contaria a Marina pelo telefone. Entraria na secretaria, levaria o seu pendrive e pegaria os registros das câmeras no dia em que o bilhete foi colocado em cima de sua carteira. Finalmente, saberiam quem estava por trás do bilhete. Chegou em casa e olhou para o pai, que o encarava curioso.
− Que foi, filho? Viu um passarinho verde, é?

− Melhor. Vi a Marina, e já achei a solução para descobrir quem escreveu o bilhete.
− E qual é?

− Entrar na secretaria, pegar as gravações das câmeras no dia em que recebi o bilhete e passá-las para o meu pendrive.

 O pai refletiu por um instante e sorriu.

− Não vou conseguir te impedir, então vai em frente. Mas, cuidado! se você for expulso...
− Não vou. Obrigado, pai. Vou ligar pra Marina. Subiu as escadas e ligou para Marina. Contou o plano todo, detalhe por detalhe.

− Ah, Ricardo, isso é PERFEITO! Eu fico de vigia?

− Não, o cara do bilhete pode estar te vigiando.

− Claro que não. Eu vou participar. Amanhã, às 3 da tarde. Beijo.
− Mas você... 

Marina desligara o celular antes de Ricardo terminar de falar qualquer coisa. Ele sorriu, surpreso com a determinação de sua melhor amiga.

Capítulo 6
(Inserido nesta postagem em 20 de fevereiro de 2014)

Ricardo saiu de casa às 14h:30. Até a escola, o caminho era de dez minutos, então daria tempo de chegar e fazer tudo o que planejava. Levou o pendrive e o celular no bolso. Estava nervoso com tudo o que poderia acontecer: alguém ver Marina e ele copiando os vídeos das câmeras, o cara do bilhete aparecer e vir resolver as contas, o plano dar errado... Era tudo ou nada. O celular vibrou em seu bolso. Ele atendeu rapidamente:

− Quem fala? − perguntou.

Uma voz feminina, a de Marina, falou ao telefone.

− Calma, Ricardo, sou eu. Você tá onde? Já vou sair de casa − O garoto respirou aliviado.
− Já estou na rua. Se você não sair logo, eu já estou te avisando, você não participa de nada, entendeu?

 − Nossa, sim senhor!  Tchau, te vejo lá.

 − Tchau!

O céu estava cinzento, com cara de que iria chover. Má sorte, Ricardo pensou. Confiante, apertava o passo pela rua arborizada. Virou à esquerda, depois para a direita, e avistou a escola. Ouvia risadas, conversas e professores explicando lições. Sentiu um leve frio na barriga, que piorou quando uma mão tocou seu ombro de repente.

 − Oi! − Marina surgiu do nada atrás do menino.

− Caramba, Marina, que saco! Eu já estou nervoso, e você ainda me assusta pra ajudar? E, por favor, disfarça, vai que... − Ricardo disse, irritado.

 − Ricardo, para de ser bobo! Vai dar tudo certo, desde que a gente siga o que planejamos. Ou melhor, o que você planejou. Você está paranoico com o “cara do bilhete”! Acha que ele vai pular de uma lata de lixo a qualquer instante? Não! Vamos fazer dar certo.

Ricardo ficou calado e Marina foi atrás dele. A garota tinha mesmo razão. Se apenas relaxasse, Ricardo não se preocuparia tanto com o bilhete. Caminharam até a secretaria e esperaram. Márcia, uma das secretárias, apareceu detrás de uma porta.

− Oi, meninos, tudo bem? − perguntou sorridente. Estava com um copo de café na mão.
− Tudo bem. Então, a gente veio entregar uma advertência atrasada para a coordenadora. Ela pediu para entregarmos pessoalmente − Ricardo disse. Estava com a advertência de Olavo, que pediu pra Ricardo entregar para a coordenadora, a dona Cláudia.

− Vieram sozinhos? − estranhou Márcia.

− Sim, a minha mãe foi trabalhar e a dele também − Marina enrolou.

− Ok, podem subir as escadas. Vocês sabem onde é a sala da coordenação, não é?
− Sim, sim, pode deixar. Tchau! − Ricardo tentou parecer o mais natural possível. Eles viraram à direita e subiram um lance de escadas.

− Está dando certo, tudo certo − Marina murmurou, tentando se acalmar. Estavam cada vez mais nervosos.

No fim das escadas, tomaram ar e viraram para o corredor largo à esquerda. Uma porta alta com uma placa pendurada indicava: “SALA DA COORDENAÇÃO: COORDENADORA CLÁUDIA MARQUES LUANA ROSA”.

Bateram na porta e uma voz respondeu:

− Pode entrar.

Marina e Ricardo entraram e se depararam com um escritório pequeno, em que uma mulher negra, nova, mas com aparência autoritária, estava sentada olhando alguns papéis na mesa cheia. Conheciam ela.

− Oi, crianças, tudo bem? − perguntou sorrindo.

− Oi, Cláudia. Viemos pegar nossas carteiras de estudante − Marina disse.

− Ah, vocês não receberam? Um monte de alunos veio aqui com o mesmo problema, esse ano não mandaram todas! Qual o nome de vocês? − a coordenadora perguntou.

− O meu é Marina, e o dele é Ricardo.

− Vou aqui do lado pedir para o Luís imprimir pra mim, vocês esperam aqui, gente?− a mulher levantou-se.

− Sim, tudo bem − Ricardo sorriu amarelo.

A coordenadora andou até a porta e sumiu atrás dela. Ricardo verificou se Cláudia já tinha ido embora, e então fez um sinal a Marina, que se levantou da cadeira e correu até uma porta dentro do escritório que saía na sala da direção. O menino largou a advertência de Olavo na mesa da coordenadora e seguiu Marina. Abriram a porta. A sala estava vazia, mas tinha uma câmera. Disso Marina e Ricardo não sabiam, mas continuaram confiantes. O diretor estava na sala dos professores, em seu recreio.

− Marina, a chave está na mesa, tranca a porta que vai dar na coordenação e fica de olho na porta aqui da frente, enquanto eu pego as gravações! − Ricardo apontou para um molho de três chaves em cima da mesa do diretor.

Ricardo correu até o computador e viu vários quadrados na tela, cada um mostrando uma região da escola. No topo do monitor aparecia o nome do programa: “Camera-System”. As câmeras mostravam a escola em tempo real. Alguns corredores estavam vazios, outros nem tanto. O pátio estava cheio de crianças correndo e comendo. Ricardo conectou o pendrive em uma entrada do computador e esperou a conexão, estralando os dedos e balançando os pés. Marina tinha trancado a porta da coordenação, e agora estava de olho na porta da frente da sala onde estavam.

 Enfim, a conexão deu certo, e Ricardo conseguiu digitar o dia e a hora em que ele encontrou o bilhete. Confirmou a pesquisa e dessa vez apareceram na tela vários quadrados que filmaram aquele dia e aquela hora a escola. Ricardo passou os olhos pelas filmagens até achar o quadrado que mostrava o corredor onde se encontrava a sala de aula em que o menino estudava. Clicou e a imagem tomou a tela inteira. Prendeu a respiração. Seu coração batia rapidamente e fora de ritmo, o suor escorria em sua testa.
− Marina, a-achei − murmurou Ricardo.

− Então vai logo, copia a gravação! – Marina afinou a voz, nervosa.

Ricardo puxou com o mouse a gravação até o ícone que mostrava o seu pendrive. Na tela, uma barra verde correndo indicava: “Você deseja COPIAR A GRAVAÇÃO ou MOVER A GRAVAÇÃO?”

Ricardo clicou na primeira opção. Apareceu outra mensagem: “Copiando arquivo de gravação 554 para pendrive...”. Ótimo.

− Acelera aí, Ricardo, que o recreio já vai acabar! − Marina falou, olhando o relógio de pulso. − Tem algumas inspetoras passando aqui pelo corredor.

− Já está acabando, já vai acabar...

“O arquivo 554 foi copiado para pendrive com sucesso”.

Ricardo retirou rapidamente o pendrive, saiu da gravação e a tela mostrou novamente as imagens em tempo real. O relógio indicava que o sinal iria tocar em um minuto. O garoto viu na tela sua imagem sentado na sala do diretor e Marina observando o outro lado da porta pelo olho-mágico. Clicou na gravação e depois na opção: “Excluir a gravação”. Depois de apagar as provas contra ele e Marina, Ricardo ouviu o sinal. Marina ficou branca e correu para destrancar a porta da coordenação. Ricardo levantou-se e se dirigiu para a porta. Saiu e chamou Marina. Uma inspetora apareceu e cumprimentou os garotos, sem desconfiar. Os dois se aliviaram e andaram até a sala da coordenadora. 

− Onde vocês estavam? − perguntou Cláudia, estranhando.

− Ela foi ao banheiro, aí eu aproveitei e fui também − Ricardo disse.

− Ah, entendi. A carteirinha de vocês. Desculpa não ter entregado antes! − disse a coordenadora, rindo.

− Não tem problema, muito obrigada, Cláudia! − Marina e Ricardo agradeceram e despediram-se da mulher. Rindo, os dois desceram as escadas e saíram pela secretaria.
− Deu tudo certo, crianças? − Márcia perguntou.

− Deu, foi tudo ÓTIMO! − Ricardo sorriu.
Marina e o garoto saíram da escola, e quando chegaram à rua, pularam de alegria.

− Deu tudo certo, eu nem acredito! − Marina gritou.

− É, foi até fácil! − Ricardo respondeu.

Começou a chover. Os dois nem ligaram, tomaram banho de chuva e saíram andando para suas casas rindo muito e respirando aliviados.

Capítulo 7
(Inserido nesta postagem em 18 de março de 2014)

Ricardo estava bastante feliz, pois ele poderia voltar ao normal com Marina. Ele chegou em casa, tomou um banho, tomou seu café e foi ver tv. Ricardo não estava mais preocupado como antes, mesmo assim ficou pensando em voz alta. 

Depois de uns 30 minutos, Marina quis saber se ele já tinha descoberto quem era o '' CARA DO BILHETE'' e ele respondeu:

 –  Marina, estou tão despreocupado e tranquilo , agora que nós já conseguimos desvendar parte do mistério, que resolvi dar um tempinho antes de voltar ao mesmo estresse de antes.
 Marina disse a ele que tudo bem, mas pediu que quando ele fosse ver o vídeo que a chamasse. Passou uma hora e Ricardo resolveu ver o vídeo. Pegou o computador e apertou o botão de ligar. Depois, Ricardo na maior calma, colocou o pendrive em seu computador e na tela apareceu escrito:

PELO VISTO VOCÊ NÃO CUMPRIU O SEU TRABALHO, ENTÃO ME AGUARDE AMANHÃ NA FRENTE DA ESCOLA E VOCÊ SABERÁ QUEM SOU EU E O PORQUÊ DE TUDO ISSO ESTAR ACONTECENDO. E ALÉM DISSO VOCÊ VAI SE VER COMIGO ....

 Ricardo ficou um pouco nervoso, então ligou para Marina e disse:

 – Mari ele descobriu o nosso plano e disse que eu não tinha cumprido o meu trabalho e que manhã ele iria criar a maior confusão....

 Marina ficou sem palavras. Ela não sabia que o ''CARA DO BILHETE'' estava espionando... e assim Marina disse:

 –  Amanhã eu irei com você e se você se meter em uma encrenca eu irei junto, pois você esta sofrendo isso tudo por minha causa.

Ricardo ficou muito grato e desligou o telefone mais tranquilo do que antes, mas, ainda estava sentindo um friozinho na barriga. Ele deitou em sua cama, olhou para o seu computador onde estava escrito o recado do ''CARA DO BILHETE'' e riu, riu pensando que um dia isso iria se resolver e quando esse dia chegasse ele iria agradecer a seus pais, e principalmente a Marina, pois ela estava enfrentando vários obstáculos e se arriscando com ela para, somente, ajudá-lo. Ricardo acabou adormecendo.

 Quando amanheceu, ele estava bem, sem nenhum medo de ver a cara do menino e nem do que iria acontecer. Ricardo sentia que, com tudo isso, ele tinha amadurecido e que agora em diante ele iria enfrentar os seus medos. Apesar de ter ficado chateado e nervoso por alguém ter feito isso com ele, Ricardo estava grato pois ele estava se sentindo bem melhor, mais forte, mais inteligente e muito mais maduro...

Até que chegou a hora dele ir para o lugar marcado e quando chegou lá....

Capítulo 8
(Inserido nesta postagem em 8 de abril de 2014)

Ricardo caminhou até a porta da escola. Olhou em volta: vários grupos de meninos e meninas estavam espalhados pelo pátio. Quem seria, então, o garoto do bilhete? Ouviu um assovio: olhou em direção ao som, e viu um garoto moreno encostado em um canto.  Ricardo respirou fundo e caminhou até o garoto.


- Oi, Ricardo- disse, colocando as mãos nos bolsos do moletom.

- Quem é você?

- O cara que escreveu o bilhete! Vítor.

- Ah, agora você acha melhor falar o nome, não é? Mas, vamos logo, por que ficou mandando bilhetinhos ao invés de vir falar logo comigo?- Ricardo disse de uma vez.
Vítor ergueu as sobrancelhas.

- Olha, não fica pagando de corajoso porque eu sei que você morreu de medo quando recebeu o primeiro bilhete. Eu vim aqui pra te perguntar o porquê você não se afastou logo da Marina.

- Porque ela é minha amiga, não foi por causa de um bilhete que eu acabei logo de vez com a nossa amizade. Foi muito melhor ela me ajudar a descobrir quem era você, e pronto, aqui estamos nós! É isso que os amigos fazem: se ajudam. Agora, você me fala o porquê de toda essa paranoia com a Marina.

- Eu não sou o vilão: na verdade, a Marina é a vilã. Eu estou mais te ajudando do que te prejudicando, Ricardo.

Ricardo começou a ficar vermelho, sentindo que estava prestes a descobrir algo a mais que não sabia.

- A Marina é uma menina muito... dissimulada. Falsa. Você achou que ela vinha aqui pra me ver junto com você? Não, porque ela sabe que fui eu quem escrevi o bilhete desde o começo. Eu fui na casa dela, falar pra ela parar de te enganar, mas ela foi até o fim com você.

Vítor olhou para os lados, para os pés e depois mexeu no cabelo rapidamente. Ricardo ficou ali, parado, tentando copiar e digerir todas aquelas informações.

- Não. Eu conheço a Marina faz um tempo, eu não vou dar uma de idiota acreditando em você.  Já que você diz tudo isso dela, por que ela mentiu pra mim, fazendo parte do plano todo para descobrir você?

Vítor tossiu e uma sombra de nervosismo passou pelo seu rosto, mas logo retomou a pose.
-Eu não sei! Ela sempre foi assim comigo, e olha que conheço ela há um ano a mais que você.  Ela mentiu pra mim, até me decepcionou muitas e muitas vezes...

- Viu? Você tá mentindo, Vítor, para com isso! Qualquer babaca vê na sua cara que você quer que eu me afaste da Marina porque...

- Cala a boca!- gritou Vítor. Algumas pessoas do pátio fixaram o olhar nos dois. – Você não sabe de tudo, e eu já te avisei sobre essa garota: fica longe dela ou vai acabar se ferrando sozinho, e eu simplesmente vou dizer que te avisei. Olha pra esses caras: metade deles tem medo de mim, e eu estou te ajudando! De nada, Ricardo. Eu te avisei.

Bateu com o ombro em Ricardo e saiu pisando firme. Quase o garoto foi atrás de Vítor para lhe revidar a batida forte no ombro, mas parou, pois viu uma garota andando em direção a ele: Marina. 

Último capítulo 
(Inserido nesta postagem em 11 de maio de 2014)

− Ricardo, o que o Vítor estava fazendo aqui?

 −  Marina, ele me disse umas coisas que me deixaram um pouco desconfiado de você, sinceramente  −  Ricardo apoiou-se na parede e olhou fixamente nos olhos de Marina. A garota ficou vermelha.

 −  O que ele disse?

 −  Que eu tenho que tomar cuidado com você, que você é falsa, sabia de tudo sobre o bilhete e ele foi na sua casa. Isso você não me contou.

 −  O QUÊ? Que molequinho besta, eu não acredito que você, Ricardo, caiu na conversinha dele! Ah, faça-me o favor! Eu te ajudei em todo o plano e agora você vem desconfiar de mim?

 − Você não me disse que ele foi na sua casa  −  Ricardo ergueu as sobrancelhas.
Marina passou a mão na testa, fechou os olhos e respirou fundo.

 −  Ele foi na minha casa, sim. Veio me cumprimentar e todas aquelas melações dele, mas eu não achei necessário te contar! Eu te conto melhor no sítio a história completa, por favor  −  o sinal bateu  −  Vamos.

Ricardo tomou um rumo diferente do de Marina, precisava pensar sozinho um pouco. Depois de todo esse tempo, Marina estava mentindo?

***
Na hora da saída, Ricardo bateu o olho em Marina: ela estava saindo da escola a pé, acompanhada por ninguém menos do que Vítor. Sentiu uma raiva imensa subir a sua cabeça. Teve vontade de sair correndo atrás dos dois e gritar até não sobrar mais voz, mas continuou andando, quase quebrando o chão com seus passos carregados de raiva. Andou, pegou o caminho mais longo para casa e andou mais.

Chegou em casa, largou a mochila no sofá e foi para o quarto. Não reparou no pai, que estava preparando um sanduíche na cozinha, mas o pai reparou no filho. Subiu as escadas e bateu na porta. Ricardo se assustou rapidamente e então abriu a porta.

 −  Não me viu na cozinha por quê?  −  o pai perguntou.

 −  Eu não vi, desculpa.

O pai cerrou os olhos como se estivesse vendo todos os pensamentos de Ricardo, então, sentou-se na cama do filho, e este sentou-se ao lado do pai.

 −  Aconteceu alguma coisa na escola?

 −  Várias coisas. O cara do bilhete é o filho do padeiro, o Vítor, e veio falar mal da Marina pra mim. Eu acreditei, mas a Marina veio me falar com a maior bondade que não, que era mentira. Só que na saída eu vi quem ela é, e que o Vítor estava certo. Ela saiu com ele a pé, conversando com ele. Aconteceu isso.

 −  Não vou mentir pra você, eu acho estranhíssimo uma garota de onze, doze anos de idade mentir desse jeito. Será mesmo que ela se fingiu o tempo todo, te ajudou em tudo pra ser uma mentira? É estranho, Ricardo.

 −  Pra você ver a que nível chegamos. Eu não quero saber mais nada dela  −  Ricardo suspirou e olhou para a janela, lembrando-se do rosto risonho e dos cabelos curtos de Marina.

 −  Você toma a sua decisão, filho, mas eu acho melhor você não jogar tudo pro alto, sabe. Pensa direito, come um sanduíche que te preparei lá embaixo, e pode me chamar pra qualquer coisa. Falou, garotão.

O pai de Ricardo levantou-se e saiu do quarto, fechando a porta, deixando Ricardo sozinho mergulhando, ou melhor, se afogando em tantos pensamentos.

***
Domingo. Ricardo acordou com a mãe ao seu lado, sorrindo.

 −  Bom dia, Ricardo!

 −  Oi, mãe...

 −  Eu acho melhor você acordar logo, porque o Ronaldo ligou e disse que em uma hora vai passar aqui para te buscar.

 −  Buscar pra quê?  −  Ricardo espantou-se.

 −  O sítio, filho! Levanta, senão vai perder o horário, vamos!

 −  Eu não vou. A... aquela menina vai estar lá e eu não vou  −  Ricardo cobriu-se novamente com o cobertor e fechou os olhos.

 −  Pois eu acho que “aquela menina” não vai. Só vão o Olavo e o Ronaldo, esse era o combinado.

 −  O sítio é da família dela.

A mãe de Ricardo suspirou.

 −  Eu sei que ela te decepcionou, mas... por favor, levanta pelo menos, eu não quero que você fique aí, dormindo.

 −  Vou levantar só porque eu estou morrendo de fome  −  Ricardo sorriu para a mãe.
 −  É isso mesmo. Só não dorme de novo, Ricardo!  −  a mãe saiu do quarto.

Ricardo dormiu por mais dez minutos, e então se levantou e colocou uma roupa. Desceu as escadas e tomou o café com a mãe e o pai, até ser interrompido  por uma campainha.
 −  Ricardo, abre a porta, por favor  −  o pai pediu-lhe.

Ricardo passou a mão nos cabelos, tentando abaixá-los um pouco, e então abriu a porta.
E lá estava ela, Marina. Ricardo quase que virou as costas e bateu a porta na cara dela, mas não, era muita grosseria.

 −  Oi  −  disse Marina.

 −  Oi.

 −  Já está pronto? O Ronaldo, o Olavo e a Katy estão no carro.

 −  Eu não vou, obrigado. Tchau  −  Ricardo ia fechar a porta, mas Marina segurou- a.
 −  Se você for, tudo vai ficar explicado e você vai entender tudo. Por favor.

 Quando Ricardo abriu a boca para falar que não, sua mãe apareceu atrás dele e entregou-lhe uma mochila.

 −  Oi, Marina! Ricardo, tome a sua mochila. A mãe da Marina te traz de volta mais tarde, não é?

 −  Sim, pode deixar  −  Marina sorriu.

 −  Tchau, filho, vá com Deus  −  a mãe beijou a testa de Ricardo e esperou o filho entrar no carro.

 −  Mas como assim? Eu. Não. Vou. Entenderam?

 −  Entra logo. Quer que eu te ponha dentro do carro, te prenda no cinto de segurança...?  −  a mãe de Ricardo ergueu as sobrancelhas.

 −  Deixa quieto. Eu não acredito!  −  e entrou em silêncio no carro, seguido de Marina.

 −  Oi, Ricardo  −  cumprimentaram Olavo, Ricardo, Katy e a mãe de Marina no volante.

 −  Oi.

Todos conversaram animadamente, às vezes Marina tentava chamar a atenção de Ricardo, mas ele só respondia com “sim” ou “não”. Chegando lá, viu que era um lugar grande, com ares gostosos e puros, o verde espalhado por todo canto, os animais pastando calmamente, a horta, o pomar, o jardim... era praticamente uma fazenda! Tudo isso deixou Ricardo um pouco mais calmo, mas não mudou o comportamento dele com relação a Marina.

Depois de Olavo, Ricardo e Ronaldo jogarem uma partida de vôlei contra Marina e Katy, Ricardo sentou-se em um banco no canto do jardim. Marina estava na escada de fora da casa-grande da fazenda, enquanto os outros entraram para comer algo. A garota desceu os quatro degraus e caminhou até Ricardo. Sentou-se ao lado dele e olhou para o lugar.

 −  É legal, não é?

 −  Uhum!

 −  Ricardo, eu quero que você entenda a história. Desde pequenos, eu e o Vítor moramos na mesma rua, no mesmo bairro, então, sempre fomos próximos um do outro. Ele pra mim era como um irmão, mas ele me via como mais que amiga, uma namoradinha. Eu não gostei disso, e então eu discuti com ele. Isso quando eu tinha 9,10 anos. Ah, ele não deixou barato.

Espalhou pra rua toda que eu falei mal de todos, que eu era uma falsa e que ninguém escapava dos meus comentários maldosos. Nunca mais falei com ele, chorei bastante porque ninguém queria ser meu amigo.

Pedi desculpas a todos e expliquei o que aconteceu. Conhecendo bem o jeito grosso do Vítor, todos acreditaram na verdade, e não falaram mais com ele. Dessa vez foi ele que ficou sozinho, sem amigos, e então a culpa foi minha, segundo ele. 

Eu nunca mais falei com o Vítor, e ele ficou com poucos amigos. Ele achava que eu era culpada de tudo, então, vendo que eu era muito próxima a você, adivinha? Tentou te afastar de mim, e vendo que não deu certo, te usou contra mim. Mas aí, sexta-feira, eu saí da escola a pé com o Vítor e conversei muito com ele.

Bom, ele me perdoou e eu o perdoei pelas besteiras que fizemos um na vida do outro. Agora ele entendeu que eu gosto dele como um amigo não tão próximo como você, a Katy, o Olavo, o Ronaldo... e então foi isso. Nunca que eu iria trair sua amizade, Ricardo, e quero que você tenha certeza disso.

 −  Agora eu tenho certeza. Desculpa,  Má, por ter feito você passar por isso  −  Ricardo abaixou a cabeça depois de ouvir toda a história, e enfim conseguiu dar um sorriso de desculpas.

Marina segurou a mão de Ricardo e disse:

 −  Muito obrigada por ter feito tudo isso acontecer; se não fosse você, eu nunca teria me desculpado com o Vítor, e nem ele comigo. Ele percebeu que eu gosto de você, sabe, e aceitou.

Ricardo ficou vermelho e apertou a mão de Marina.

 −  É, eu também gosto de você.

Marina sorriu e abraçou Ricardo, e este, mais feliz do que nunca, retribuiu o abraço.

 −  Talvez, no futuro, a gente possa se juntar. Mas agora, eu estou com fome, o que você acha?

 −  No futuro sim. Agora, quem chegar primeiro vai comer o melhor pedaço de bolo!

Os dois riram e saíram correndo para dentro da casa, onde todos riram e ficaram felizes, porque finalmente aqueles dois se entenderam, e iriam se entender o resto da sua vida.


FIM


3 comentários:

  1. Muito legal. Está saindo um texto de mistério de primeira!
    Já estou ansioso para saber o que a Marina queria dizer ao Ricardo...

    ResponderExcluir
  2. aguarde mais uns dias e veremos. Eu também estou curioso.

    ResponderExcluir
  3. Também estou curioso, Renê. Mais duas semanas e vamos ficar sabendo.

    ResponderExcluir

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças